Automutilação: o que é, quais as causas, como tratar?

Automutilação: o que é, quais as causas, como tratar?

O que é automutilação

A automutilação é o termo utilizado para designar a pessoa que pratica o ato de se cortar em alguma parte do corpo, para obter, de uma forma desesperada, um alívio de uma dor psíquica intensa. 

O comportamento é conhecido como “cutting”, que significa “corte” em inglês. Após o ato, surge o sentimento de vergonha, sendo preciso esconder os cortes para evitar um outro sentimento: a culpa por estar agindo assim. 

O sinais da automutilação 

Os indivíduos que sofrem deste distúrbio, comumente se fecham no quarto, ficam trancados no banheiro em banhos de longo período, recusam-se a participar de atividades em conjunto com os familiares e colegas que sejam necessárias a utilização de roupas curtas. Frequentemente usam blusas de manga comprida e calças, mesmo se o clima estiver quente, com o intuito de esconder os cortes. 

É uma prática que acomete principalmente adolescentes dos 12 aos 17 anos de idade. Existem relatos de crianças com idades de 8 a 10 anos, e de adultos com este tipo de comportamento, no entanto, são em menor proporção.

As possíveis causas deste comportamento

Os educadores pedem socorro. Os pais não sabem como lidar com essa situação.  Mas afinal, o que leva os jovens a esse comportamento? Ou seria outra a pergunta: o que esse comportamento leva aos jovens?

No momento intenso da dor a solidão toma conta, o coração acelera, dores estomacais surgem, as pernas tremem e um turbilhão de pensamentos negativos perturbam a mente cansada, a ponto de realizarem o ato novamente, e novamente, e novamente… 

As emoções negativas perturbam, enlouquecem, e o que se vê é a única possibilidade de resolver os conflitos internos com os cortes. O triste é que parece uma droga viciante e de difícil controle, pois não há outra alternativa quando o organismo, como defesa, foca numa única dor, ou seja, a dor provocada pelos cortes, a dor psicológica consequentemente diminui, o que causa o alívio da dor emocional. 

A demora para buscar ajuda pode desencadear um Transtorno Depressivo maior, o Transtorno Obsessivo Compulsivo, mais conhecido como TOC, o Transtorno de Ansiedade Generalizada e, em alguns casos, o suicídio

O que o estudos apontam

Estudos apontam várias causas, dentre as quais estão: 

  • Distúrbios emocionais, 
  • Baixa autoestima, 
  • Dificuldade no enfrentamento de conflitos familiares, 
  • Lidar com questões de identidade de gênero, 
  • Perdas significativas, 
  • Abusos sexuais e emocionais, 
  • Bullying de pais ou colegas de escola, 
  • Entre outros. 

Na sua maioria, os adolescentes e todo o público praticante do “cutting” evita buscar ajuda por não perceber que necessitam de apoio, por vergonha e por medo e/ou falta de compreensão ou do ridículo pelo ato. Em alguns casos, o “cutting” acontece como “modinha”, no caso dos adolescentes, como objetivo de se adequarem ou pertencerem a um grupo. 

A dor silenciosa desencadeia a busca de um suporte muitas vezes disfuncional, como o uso e abuso de substâncias tóxicas, e ao vivenciar uma situação difícil, e também inversamente como na falta da frustração, buscam no ato cortante o alívio da angústia e do tédio. 

Muitos convivem com a incerteza de buscar ou não um apoio dos pais, cuidadores, amigos ou um profissional da área da saúde.

Onde buscar ajuda?

Na escola:

  • Educadores, acolham seus alunos, eles não estão chamando a atenção, pelo contrário, eles têm o medo de serem descobertos; escutem o que eles têm a dizer! Falem sobre a automutilação na escola. Proponham debates, soluções, caso estejam com algum aluno com comportamentos que possam ser suspeitos. Respeitem, eles estão em sofrimento;
  • Promovam jogos, dinâmicas e rodas de conversas mediadas por um psicólogo ou professor capacitado para abordar os temas pertinentes aos jovens;     
  • Encaminhem os alunos para ajuda terapêutica, falem com os pais e ofereçam apoio, compreensão e carinho, sem punição e julgamento;
  • Encaminhem para o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) mais próximo de seu bairro;
  • Fale abertamente com seu professor, ele saberá como te ajudar;
  • Se é seu amigo ou amiga que sofre por uma ansiedade intensa e que está se automutilando, tenha um diálogo com ela (e). Ofereça um abraço e diga que ela não está só. Pare para escutá-la, mesmo que isso te choque. Diga sempre que você estará disponível para conversar.

 

Para os pais:

  • Observe as roupas que seu filho escolhe. Fique atento às mudanças de comportamento que ele apresenta. Eles podem expressar seus desconfortos com agressividade;
  • Avalie a importância de estarem mais juntos, pergunte sempre ao seu filho: “como você está?”, “com quem você vai sair?”, “precisa de algum coisa?”, “como posso te ajudar?”;
  • Permita que eles falem o que sentem, não interrompa. Não se desespere, sempre há tempo para resgatá-los;
  • Não sinta culpa. Acolha-os e estejam abertos para um diálogo amoroso e sem julgamentos, eles precisam do seu olhar.

 

Com o tratamento adequado e a ajuda terapêutica e/ou multidisciplinar, seu filho pode melhorar. E o papel do psicólogo nesse caso é ajudar a compreender o que está acontecendo e encontrar outras possibilidades para o alívio da tensão emocional. 

Além do mais, auxiliar a lidar com situações difíceis positivamente, ajudar o indivíduo a ser autêntico, responsabilizar-se por seus atos e escolhas. Melhorar a autoestima, a tomada de decisões, e como consequência, os relacionamentos familiares, amorosos e sociais. 

 

Referências

CASSORLA, R. M. S. (Coord.). Do suicídio: Estudos brasileiros. Campinas, SP: Papirus, 1991. 

Maria Aparecida de A. G. Mautoni       

Psicóloga Clínica, especialista em Gestalt-terapia. CRP:12/16942

Psicóloga online: psicologiaviva

E-mail: aparecidamautoni@yahoo.com.br

 

 

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