Menos mulher mais gravidez?

Menos mulher mais gravidez?

Muitos não sabem, mas a gravidez traz grandes alterações para a mulher, tanto físicas quanto sociais. Os pés incham, a produção de hormônios aumenta e o nosso papel que antes era de mulher e filha, passa agora por uma mudança, sendo esse o papel de mãe.

Esse papel de mãe tem um peso e significado diferente para a mulher e para a sociedade em sua volta, e isso pode trazer pontos bons e ruins, podemos por exemplo citar o medo da maioria das mulheres em falar algo negativo sobre ser mãe ou estar grávida por medo de julgamentos.

É quase como se fosse um pecado estar infeliz com a gravidez ou a maternidade, como se tivesse que ter enjoos de sorriso aberto, pois no final de tudo ela está gerando uma vida, mas acontece que esse pensamento gera um peso e preconceito nas mães, ninguém disse que ela não está buscando amar seu filho ou que não vai continuar amando e cuidando futuramente, simplesmente estamos dizendo que ela está cansada, que a sua rotina mudou e que novos olhares recaíram sobre ela, o mundo de repente está diferente.

Isso acontece em parte pela imagem que temos de mulher e mãe, onde a mãe é algo mais perto da santidade e pureza e a mulher algo mais livre. Ao longo dos anos a imagem e papel da mulher passou por mudanças, se antes era a imagem perfeita da dona de casa, com a revolução industrial passou a ser a mulher no mercado de trabalho e hoje segue a luta para a mulher ser quem ela desejar e onde ela desejar sem preconceitos, violências e a necessidade de provar o mérito de estar onde deseja.

Dentre os vários papéis que a mulher passou ao longo dos anos, ainda temos inúmeros estereótipos e dúvidas que prejudicam o desenvolvimento do potencial feminino e com isso a gravidez e maternidade não seriam diferentes, algo tão importante como o nascer e a maternidade fica abandonado e colocado em uma caixa, hoje a medicina retira em parte o protagonismo da mulher em vez de atuarem em conjunto com essa mãe.

Sendo assim, como mulher sofremos muitas mudanças ao longo dos séculos, mas o papel de mãe segue o mesmo, uma mulher calma, pura e que vive para servir incondicionalmente, apesar de não ser mais assim que tudo ocorre, a pressão em volta dessa ideia continua, por exemplo, o medo de não ser uma boa mãe, de não dar conta ou ‘estragar’ os filhos, medo do parto e dúvidas, os olhares maldosos, a vida no trabalho ou o medo constante de machucar a criança, fora a própria dificuldade que muitas mulheres têm de começar a ver-se como mãe.

Em parte essas dificuldades e a perda de si dentro da maternidade se liga à ideia de que o instinto materno existe, mas isso é totalmente errado, o que temos de instinto é piscar ou a necessidade de beber água, o que acontece na maternidade é o aprendizado do amor materno, isso mesmo, aprendemos e desenvolvemos o amor materno e passamos a ter um vínculo com os filhos, tudo isso é aprendido. Infelizmente essa ideia ainda é tão forte que traz dificuldades para as mães, acabando que as pessoas veem mais a gravidez do que a mulher grávida.

 

Cadê meu apoio?

Se as pessoas já chegam com o foco na criança antes mesmo dela nascer, como fica essa mãe? Muitas vezes a mãe se encontra em um lugar que precisa de uma rede de apoio, seja para conversar sobre si ou para tirar dúvidas e medos reais da maternidade que enchem sua mente, como a ideia do parto, estereótipos sobre dor ou a romantização de que tudo vai ser perfeito, mesmo vendo que não é bem assim. A falta de uma real rede de apoio e atenção profissional qualificada somente trazem um aumento das alterações emocionais.

Estudos mostram que o perinatal é um dos três períodos potenciais de crise na vida da mulher, tendo grandes chances de alterações emocionais, dados mostram que em média 35% das mulheres têm ansiedade, 60% estresse e 25% depressão, isso mostra como temos pouco conhecimento e investimento nessa área nos deixando levar pelo medo e falta de conhecimento, já na prática também temos que incluir os problemas de violência obstétrica no parto e situações diárias com ‘pitacos’ familiares e os sentimentos conflituosos no trabalho, mas calma que não estou aqui para te assustar, muito pelo contrário.

O seu apoio pode estar em um profissional, em um grupo ou em uma conversa com uma velha amiga, a rede de apoio, o se sentir mulher além de mãe é um processo diário no qual você começa a identificar sua identidade com cada ação e ideia, começa a entender como deseja caminhar sua vida parental e individual, retoma velhos hábitos e inicia novos, é importante não se abandonar e não se sentir abandonada nessa fase, além de ter ajuda para identificar seus desejos e sentimentos.

Saber o que sentimos e o que estamos processando quando grávida nos ajuda a reconhecer o que queremos, além de ajudar também conseguir pedir ajuda, dessa forma podemos ter mais voz, autonomia, confiança e autoridade sobre si e sua maternagem, e realizar isso tudo sem esquecer de si mesma, por isso um dos papéis do psicólogo perinatal é te ajudar a identificar uma real rede de apoio, fora as várias outras informações técnicas e decisões que te ajudamos a chegar. Lembre-se que você é a protagonista desse parto e você e sua nova família merecem uma boa vida, começando com o nascer.

E se eu não amar a maternidade, o que eu faço agora? 

Com alguns pontos esclarecidos dentre os vários que existem nesse tema, venho deixar mais um alívio para as mamães e para aquelas famílias que buscam aumentar o número algum dia. Ser mãe é diferente de desejar um filho, por isso, se algum dia se você se encontrar em uma situação onde odeia a maternidade ou odeie ser mãe, não se desespere, esse sentimento dizem respeito aos papéis e ideias sociais que uma mãe acaba exercendo, e das tarefas que seguem realizando, isso não interfere no amor que você pode desenvolver pela sua família e filhos.

Muitas mulheres acabam descobrindo que não gostam tanto assim de ser mães ou que toda a ideia criada não saiu bem como o planejado, influenciando assim a vida pessoal da mulher, a qualidade da maternidade, as vivências em casa, no trabalho e muitas vezes na falta de apoio do companheiro e família, por isso mostro aqui uma possibilidade de ser e fazer diferente. Uma caminhada com apoio, descobertas, reconstrução, posicionamentos e mudanças na vida que deseja como mãe, mulher e família.

Eu trouxe no começo desse texto os vários papéis que a mãe e a mulher desempenham e como isso muda, dessa forma também te digo que os papéis e tarefas dentro de uma família podem ser desenvolvidos de maneira diferente, podemos descobrir o que funciona para você na sua realidade. A verdade é que o papel de mãe cansa e poucas vezes o fardo é dividido, estou aqui para desconstruir essa ideia e reconstruir em algo leve, acabar com a dor e peso da maternidade.

Um bom passo é não romantizar as dores, a maternidade é bela, mas também conflituosa e cansativa, assim busco desenvolver o vínculo de amor materno que pode ter ficado perdido em meio às tarefas e a vida da mulher que você deseja ser e recuperar com vontades e desejos que podem ter ficado perdidos dentro do papel de mãe. Não precisamos esquecer quem somos, somente precisamos de ajuda em alguns momentos para continuar a descobrir quem queremos ser em cada fase da vida

Referências bibliográficas 

  1. TEREZA MALDONADO, Maria. Psicologia da gravidez. 4. ed. São Paulo: Ideias e letras, 2017. 244 p. ISBN 978-85-5580-024-5.
  2. ZANELLO, Valeska. Saúde mental, gênero e dispositivos: cultura e processo de subjetivação. 1. ed. Curitiba: Appris, 2018. 301 p. ISBN 978-85-473-1028-8.
  3. BOSCHI, Mariana; MAGALHÃES, Marina (coord.). ENTRE NÓS: desafios da parentalidade na primeira infância. [S. l.]: Conquista, 2020. 252 p. ISBN 978-65-86243-03-1.
  4. CARDOSO, Rebeca; SANCHES, Mário; SILVA, Daiane. Introdução à Parentalidade: uma reflexão no contexto da bioética. Curitiba – Brasil: CRV, 2019. 82 p. v. 9. ISBN 978-444-2844-3.
  5. ZORNIG, Silvia Maria Abu-Jamra. Tornar-se pai, tornar-se mãe: o processo de construção da parentalidade. Tempo psicanal.,  Rio de Janeiro ,  v. 42, n. 2, p. 453-470, jun.  2010 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-48382010000200010&lng=pt&nrm=iso
Dálete Moreira Clara de Souza
Últimos posts por Dálete Moreira Clara de Souza (exibir todos)
Deixe seu comentário aqui
Assine nossa newsletter

Outros posts que você também pode gostar

Assine nossa newsletter

Fique por dentro dos melhores conteúdos sobre bem-estar, saúde e qualidade de vida

Saúde mental, bem-estar e inovação que seu colaborador precisa

Através do nosso programa de saúde mental, as empresas reduzem perdas com afastamento do trabalho por demandas emocionais.