O que um psicanalista pode dizer aos pacientes?

O que um psicanalista pode dizer aos pacientes?

Hoje, em agosto de 2019, pretendo contar a vocês um pouco sobre minha experiência da clínica. Creio que muitas pessoas não tenham acesso a isso. A proposta é trazer o que vem surgindo a cerca de cinco anos, sem trazer muita teoria.

Primeiramente, gostaria de agradecer a todos aqueles que por motivos diversos procuram ajuda, auxílio, ou simplesmente aqueles que marcam uma consulta/sessão e não vão. 

Essas coisas são uma espécie de termômetro de que há um desejo latente nessa ação. Muitos psicólogos ou psicanalistas podem pensar que é irresponsabilidade, contudo, tenho minhas dúvidas.

Traçando um período de 2015 até 2019, se aproximando de 2020, o desenvolvimento das tecnologias deu um salto muito grande. Muitos feitos nas áreas da vara familiar, em se tratando de justiça. Novos arranjos familiares foram abertamente mostrados, novas diversidades de amar, de orientar a sexualidade, puderam ser veiculadas com maior força.

Sem deixar de falar no aspecto financeiro que com o passar do tempo só aumenta sua importância para além das necessidades básicas de um ser humano, como abastecer o corpo de água, comida e moradia. Algumas linhas teóricas chamam o requinte nessas escolhas, sejam de casas diferentes, comidas personalizadas, bebidas milagrosas, cosméticos, exageros em ferramentas de seguranças, diversos tipos de dieta, tudo isso pode ser visto como um fetiche. Já que o que é da ordem da necessidade é apenas alimentar-se, hidratar-se e conseguir descansar.

O tempo acelerado associado à importância cada vez maior do capitalismo, associando ainda com as múltiplas personalizações de estilos de vida, bem-estar, muitas formas de se apresentar de uma forma diferente, marcam um conflito estrutural um tanto interessante.

Há pouco tempo alguns de vocês ouviram falar do tempo líquido, do amor líquido, e tudo mais líquido. Como algo que pela superficialidade ou pela forma fugaz por conta do tempo curto, acaba escorrendo entre as mãos, entre os olhares, entre os afetos.

Mas algo mudou? Creio que sim. Neste curto período de tempo, de 2015 até 2019, o que modificou foi a interação das pessoas. Parece que o alvo de saciar os desejos particulares desconsidera a barreira do outro. Entendam barreira como um corpo que fala, que se comunica, que também sente desejos, e talvez por isso um com o outro devesse tentar se comunicar para compreender no outro suas práticas, suas questões, como um espelho invertido que denuncia a parte de que não conhecemos.

Mas, devido a todo esse processo denominado de mutação cultural, as pessoas apenas se relacionam com elas mesmas. Desconsideram o desejo do outro. De forma inconsciente as pessoas buscam a satisfação de si e nada mais.

E qual o problema disso? Creio que o problema não esteja exatamente em colocar o outro como objeto. Talvez o problema maior seja viver nesse modo ativado. Viver a todo o momento nessa modalidade cria muitos mecanismos de defesas que tendem a se cristalizar e depois ficam cada vez mais difíceis de ampliar uma compreensão sobre quem você é, como as pessoas te enxergam, e toda essa dinâmica interpessoal.

E como aparecem na clínica as consequências disso?

Aparecem sob a forma de angústia, ansiedade, depressão, fobia, manifestações psicossomáticas, dentre outros nomes. Entendem agora que um diagnóstico é muito mais complexo? Que uma ansiedade não tem como ser simplesmente retirada sem que exista um tempo para pelo menos pensar a respeito do por que está acontecendo com você?

Antigamente consideravam que a depressão, por exemplo, era um problema da bile negra, uma substância que adoecia as pessoas, sendo confundida com um carvão ou com a tinta. Acreditava-se que era indício de algo maléfico, que trazia tristeza e melancolia. Mas não é com a tinta que se escrevem os poemas?

 

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