Qual a importância das emoções na tomada de decisão?

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Qual a importância das emoções na tomada de decisão?

Para a abordagem da Gestalt-terapia o desenvolvimento humano é um processo permanente, nunca acaba, onde a pessoa possui uma capacidade inata de auto-regulação organísmica, passando por ajustamentos criativos nas diversas situações da vida.

A criança em desenvolvimento é fruto de suas experiências sociais, culturais, de suas potencialidades, bem como de acontecimentos imprevistos. As mudanças que ocorrem em sua mente e em seu corpo levam a mudanças nas relações com o meio e a um novo desenvolvimento. 

A família como primeira forma de contato da criança com o mundo

Nesse processo de desenvolvimento, a família pode ser considerada a primeira forma de contato da criança com o mundo. Num primeiro momento, nos primeiros anos de vida o campo relacional da criança é bastante reduzido e ela também não tem a capacidade cognitiva bem desenvolvida, por vezes age e tenta se “adaptar” ao meio a partir das emoções que ainda lhe são pouco conhecidas e confusas.

Por ser bastante dependente dos pais ou cuidadores, a criança vai adquirindo recursos para escolher o que precisa do outro, bem como para decidir de que jeito ela buscará atender as suas necessidades. Neste momento, o adulto é essencial pra suprir estas necessidades e apresentar-lhe o mundo.

Por vezes, ela “introjeta”, ou seja, aquilo que é apresentado a ela e experienciado é para ela a única maneira que ela encontra de perceber o mundo, de perceber o que pode e o que não pode, o que faz com que ela também não se sinta insegura.

Não possui nos primeiros anos a distinção do que é verdade ou não, sendo este momento crucial para que a família não lhe passe percepções negativas sobre si, que venham prejudicar sua auto-estima e também o contato com o mundo. No decorrer do tempo vai discriminando o que é dela do que é do outro, questionando ou também, dependendo de como foi este campo familiar, pode se reprimir em suas emoções e conhecê-las de forma bastante superficial.

Quanto mais estímulos a criança tiver em suas sete funções de contato (visão, audição, tato, paladar, olfato, linguagem e movimento corporal) mais estabelecerá contatos saudáveis consigo e com o mundo, e também mais possibilidades de adaptação poderá ter.

É neste contexto familiar que suas emoções como raiva, medo, alegria e tristeza podem ser vivenciados e reconhecidos no sentido de a criança poder se desenvolver da forma mais saudável possível para ela.

Como trabalhar as emoções?

Na psicoterapia da Abordagem Gestáltica, o terapeuta trabalha no sentido de possibilitar atualizações de condutas antigas e de ajustamentos criativos já cristalizados, pois estes, por várias vezes, levam o sujeito a uma vida empacada em suas vivências e decisões.

Olhar para as emoções é de suma importância neste momento. Como exemplo, pode-se citar uma pessoa que está prestes a se decidir sobre que trabalho deve escolher no momento, ela pode sentir-se “confusa” e “desestabilizada” emocionalmente. Nesta situação específica, muito mais que utilizar a razão e o raciocínio para a escolha, a pessoa precisa também entrar em contato com o que sente. Perceber o que faz bem a ela não é tarefa fácil. Envolve identificar as emoções e sentir o que cada situação pode lhe proporcionar também em termos emocionais. 

A raiva, o medo e a tristeza são muito experienciados pelas pessoas em momentos decisivos de suas vidas, além de outros sentimentos ou emoções também. Muitas vezes a pessoa já pensou bastante sobre uma situação na qual terá que tomar uma decisão e tendo tudo “prontinho” cognitivamente por vezes acha que tomou a decisão certa, mas por não ter olhado o seu “sentir” poderá vivenciar a situação escolhida com frustrações e decepções. 

O ser humano tem os sistemas sensório, cognitivo e motor. Somos um todo integrado, que se configura e reconfigura a todo instante. Isso implica que nada é permanente em nós, precisamos sentir, pensar e também nos mobilizarmos e entender como nos mobilizamos para nossas realizações.

Na Gestalt-terapia, em uma relação dialógica com o terapeuta, a pessoa pode experienciar-se como um todo através de diversos experimentos com a sensopercepção, com a imaginação, com a arteterapia, dentre outros.

Cada um vai permitindo experienciar-se no seu ritmo e da sua maneira com as diversas possibilidades e, assim, tanto a razão quanto a emoção e o motor podem ser integrados e as experiências vividas com mais equilíbrio e homeostase corporal. Nosso funcionamento passa pelos três sistemas: sensório, cognitivo e motor que precisam ser trabalhados e integrados para inclusive uma tomada de decisão que nos faça sentir-se bem e satisfeito e também para nosso equilíbrio pessoal e corporal.

Como utilizar as emoções a meu favor?

Aqui vou elencar alguns questionamentos que podem ser feitos em relação às emoções. Deixo claro que independente da situação vivida no momento, estas perguntas podem ajudar a entrarmos em contato conosco mesmo e assim nos conhecermos melhor, contribuindo para uma melhor compreensão de como estas emoções acontecem em nossa vida, bem como para uma autoconsciência dos enfrentamentos que adotamos no momento.

1- EM QUE MOMENTO COMECEI A SENTIR ESTA EMOÇÃO?

2- EM QUE SITUAÇÕES ELA ESTÁ PRESENTE?

3- QUAIS AS SENSAÇÕES QUE TENHO?

4-QUAIS AS ATITUDES QUE HABITUALMENTE ADOTO PARA LIDAR COM ESTA EMOÇÃO?

5- EXISTE ALGO A MAIS QUE POSSO FAZER?

Abaixo faço uma breve descrição de algumas emoções e amplio o olhar que se pode fazer sobre cada uma delas.

  • MEDO: Como se sabe, o medo é uma forma humana de emoção que nos alerta para o perigo, sendo uma “resposta de sobrevivência” ativada em nosso corpo diante de situações ou até mesmo pensamentos que nos são tidos como ameaçadores.

A sua energia pode ser utilizada para nos mobilizar a nos proteger, mas deve-se fazer questionamentos sobre a realidade das ameaças, bem como ter cuidado para que esta emoção não se intensifique e se cristalize ao ponto de se configurar em uma Fobia e até em Transtornos Psicológicos.

  • RAIVA: Pode-se dizer que a raiva é uma das emoções mais básicas do ser humano e começa em uma região do cérebro chamada de amígdala e pode se manifestar através de uma leve frustração ou estado de fúria. Em momentos de raiva o indivíduo pode socar almofadas, joão-bobo, para que possa liberar a energia em seu organismo, e quando reequilibrar-se, refletir e questionar-se sobre suas vivências para que possa tomar atitudes ou dialogar.
  • TRISTEZA: É caracterizada por sensações de baixa auto-estima, angústia, dor, dentre outros. Geralmente acontece em situações que tenham a ver com decepção, com frustrações e até mesmo com a raiva. É importante a pessoa tentar perceber o que a está fazendo sentir-se assim e como esta tristeza acontece em sua rotina, quais as sensações corporais que vêm junto com ela, bem como elaborar as perdas e dores, no intuito também de que não se configure em uma Depressão, por exemplo.
  • ANSIEDADE: Consiste em uma resposta do organismo diante de um perigo ou medo, que pode ser real ou imaginário. A energia atrelada à ansiedade fica como que “engarrafada”, sendo de extrema importância encontrar maneiras para que esta energia flua, seja através de atividades rotineiras, exercícios físicos, meditação ou através de reflexões que o indivíduo faz de sua rotina, de suas emoções e vivências. Deve-se tomar cuidado para que não se configure em Fobias ou Transtornos Psicológicos.

Por fim, cabe destacar a importância do autocuidado em todas as nossas vivências e a abertura para um processo psicoterapêutico, se necessário, pois nosso organismo e nossas experiências por vezes precisam de um espaço para que possam ser olhados com mais consciência, num processo de experimentação pessoal, e também para que ressignificações e novas elaborações aconteçam em nossas vidas. Deste modo, novas possibilidades podem ser encontradas de acordo com as potencialidades e limites de cada um. 

Referências bibliográficas

  1. HYCNER, R.; JACOBS, L. Relação e Cura em Gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 1997. 
  2. GINGER, Serge; GINGER, Anne. Gestalt: uma terapia do contato. São Paulo: Summus, 1995.
Rayssa Mazza de Castro Alencar
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