Baleia Azul: vamos falar sobre suicídio?

Imagem: Pixabay
Baleia Azul: vamos falar sobre suicídio?

O suicídio e a morte já foram abordados em filmes, ritos, religiões e na música que levam a difícil questão de refletir sobre a vida e a nossa convivência em sociedade.

Muitos tabus cercam o suicídio e, geralmente, não damos a merecida atenção ao tema, que, muitas vezes, é visto como uma “fragilidade pessoal” ou uma “fraqueza”.

Jogo da Baleia Azul

Recentemente um perigoso jogo tem se espalhado pelo mundo: Jogo da Baleia Azul. O jogo, que tem preocupado as autoridades brasileiras, consiste em diversos passos ordenados por grupos nas redes sociais que incentivam o suicídio e ameaça os que desistem.

Ele consiste em desafios sugeridos aos adolescentes ou jogadores, sendo o suicídio a última etapa. As tarefas a serem cumpridas são transmitidas por grupos em redes sociais.  Nas conversas, um grupo de organizadores, chamados “curadores”, propõe, pelo menos, 50 desafios macabros aos adolescentes, como fazer fotos assistindo a filmes de terror, automutilar-se desenhando baleias com instrumentos afiados em partes do corpo e ficar doente.

O que é suicídio?

Mas afinal, em que consiste o suicídio? Para a coordenadora do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli (CLAVES) Cecília Minayo, o suicídio caracteriza-se pelo ato deliberado de infligir a própria morte, incluindo fatores biológicos, psicológicos, médicos e sociais.

Já a pesquisadora do campo Violência e Saúde Liana Pinto lembra que todo suicídio tem um componente de escolha do sujeito diante de circunstâncias sociais, psicológicas, ambientais e médicas muito dolorosas.

O RELATÓRIO DA OMS (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE) APONTA QUE APROXIMADAMENTE 800 MIL PESSOAS DÃO FIM A SUA VIDA A CADA ANO NO MUNDO, SENDO O BRASIL O OITAVO PAÍS NAS AMÉRICAS EM NÚMEROS DE SUICÍDIO.

É possível prevenir?

Há um consenso entre grande parte dos pesquisadores do campo da saúde de que é possível prevenir o ato de dar fim da própria vida. Um caminho possível é conhecer um pouco contextos sociais que podem intensificar a falta de desejo por viver.

O processo de construção que leva tentativas de concretizar a própria morte, percorre caminhos distintos, de acordo com cada pessoa e perpassa por vivências singulares, minimamente associadas a conflitos e devaneios emocionais difíceis de serem suportados.

No entanto, não se pode desconsiderar os aspectos sociais que rondam o desejo pela própria morte.

Questões sociais

Atualmente o suicídio é um grande problema de saúde pública que percorre campos polêmicos e envolve necessariamente a reflexão de realidades sociais.

Dentre os muitos motivos que podem levar uma pessoa a interromper sua própria vida, faz-se necessário destacar a depressão  como um aspecto importante.

Aliás, esse é um estágio de alerta para todos que convivem com pessoas acometidas por esse transtorno, que pode ser correlacionado a tentativas de suicídio. Determinados grupos são mais afetados por situações específicas que podem levar a transtornos mentais graves como a depressão.

Grupos mais vulneráveis

Mas, afinal, o que efetivamente levaria uma pessoa a tirar sua própria vida? Essa pergunta certamente não terá uma resposta única e nem fácil. Isso em função da multicausalidade presente em situações de tentativas de suicídio.

Algumas pesquisas já apontam para respostas que ajudam a compreender um pouco mais essa situação.

Na população trans, destaca-se a vivência da transfobia e depressão como fatores relevantes a serem considerados, conforme os debates do Seminário Suicídio da População Trans: limites entre vida e morte.

Fatores cotidianos podem trazer experiências insuportáveis e dolorosas, como o dia a dia dentro de casa, a convivência com parceiros sexuais, o não acesso ao mercado de trabalho, o processo de discriminação que são acometides, caracterizando-se em violência física e estrutural – como aponta a carta de suicídio da jovem transgênero Leelah.

Dentre outros grupos, em que o suicídio também se configura como grave questão de saúde, estão as populações de homens idosos e pessoas com HIV.

Responsabilidade da sociedade

Temos urgência em desconstruir nossa insensibilidade e abandono das dores de pessoas que cometem tentativas de suicídio – por vezes minimizadas como “besteiras”, “fraqueza”, ou “alguém que quer aparecer” – quando na verdade a pessoa quer sumir.

É preciso desconstruir a crença popular de que “quem quer se matar de verdade não avisa”. As experiências no campo da saúde mental mostram exatamente o contrário, normalmente uma tentativa de suicídio é anunciada, muitas vezes, antes de ocorrer. Não é muito difícil observar pessoas que estão passando por situações insuportáveis.

Quando buscar ajuda

Necessitamos solicitar ajuda mesmo que não estejamos pensando em nos matar. Existem espaços que podem auxiliar em momentos difíceis como o Centro de Valorização da Vida.

A infelicidade, a depressão, o bloqueio das potencialidades podem ser considerados, segundo Roosevelt Cassorla, professor da Unicamp, suicídios parciais ou microssuicídio.

Finalizo com as palavras do grande psicólogo existencial e “o papa” da psicologia hospitalar brasileira Angerami Camom no texto A Vida Como Farsa:

A VIDA NÃO TOLERA FARSAS. PODEMOS ENGANAR TODOS, MAS NUNCA A NÓS MESMOS. A VIDA QUANDO SE TORNA UMA FARSA SE TORNA UM FARDO INSUPORTÁVEL. NÃO DEIXE SUA VIDA SE TRANSFORMAR EM UMA GRANDE FARSA. RECOLHA TUA DOR E SORRIA APENAS QUANDO O CORAÇÃO ESTIVER EM FESTA. NÃO FAÇA DA TUA VIDA UMA FARSA.

Se esse texto foi útil para você leia também o nosso post sobre as 5 doenças psicológicas mais comuns em todo o mundo, que muitas pessoas possuem os sintomas e muitas vezes desconhecem o diagnóstico.

*Salvador Correa é psicólogo, especialista em saúde coletiva, mestre em Saúde Pública e ativista do movimento de Aids. Atualmente é coordenador de Treinamento e Capacitação da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS e atende no Psicologia Viva.

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Salvador Pereira Correa Junior
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