O Luto e o Natal

O Luto e o Natal

O Natal está chegando, as festas de final de ano estão aí e como passar por esse período quando o coração está ferido e a alma está sangrando?

Como entrar nas lojas e escutar aquelas musiquinhas e não se emocionar?

Como ver tantas pessoas repletas de sacolas e lembrar de que não tenho emprego?

Como olhar para uma lista de presentes e não encontrar o nome da pessoa que você ama?

Como chegar aos lugares todos enfeitados e lindos e não estar em clima algum em participar?

Muitas vezes a dor que foi suportada durante o ano todo acaba ficando insustentável nessa época de muitos significados, independente de crenças e o enlutado se cobra se deve ou não festejar esse período.

Depois que perdemos alguém, achar sentido nas datas comemorativas, pode ser algo demorado e dolorido. Parece que o natal é um amplificador de perdas.

Pode ser o seu primeiro natal e passagem de ano sem a pessoa que você ama ou pode ser mais uma data muito significativa sem ela. A sensação é de ausência, é de vazio é de solidão. A sensação é de não pertencimento, parece que estamos vivendo em uma época que não nos pertence mais. Uma parte de nós foi embora, uma pessoa primordial na minha existência, não está comigo mais e não será a mesma coisa mesmo! Após a perda de alguém uma transformação interna acontece e isso é inevitável.

E como passar por isso tudo?

Como passar esse período que é tão cheio de significado e não desmoronar por dentro?

Precisamos nos silenciar, ouvir e respeitar os nossos pensamentos e sentimentos e com isso resolvermos se queremos participar das festas e dos rituais. Você não precisa fazer parte de uma comemoração, se não deseja. Sabemos que existem outras pessoas à nossa volta, mas preciso me respeitar e fazer desse período algo mesmo doloroso, naquele momento. A sua vida mudou, não é a mesma sem a pessoa que era muito especial para você. Não dá para acionar uma tecla e simplesmente fingir que nada está acontecendo. Não dá mesmo! Teremos que nos readaptarmos.

Não conseguimos apagar da nossa mente e da nossa vida situações passadas com alguém que fazia parte da nossa existência, mas temos o dever de sermos sinceros com o momento que estamos passando! Não adianta não falar sobre o que aconteceu ou fingir que não está doendo. Doi e o que eu posso fazer para amenizar essa dor? Isso é possível? O primeiro passo sempre é se acolher.

Existem relatos se pessoas que dizem sentir vontade de dormir no Natal e acordar somente no Ano Novo! Mesmo não sendo possível é uma vontade é compreensível. Enquanto outras trabalham e muito nesses dias, como uma forma de extravasar os sentimentos. E tudo bem!

Como também existem pessoas que querem quer participar das comemorações e ficar próximo das pessoas e amigos que ama! E isso é algo muito saudável também! Respeite você! Respeite o seu coração. O luto é assim, tem momentos que estamos bem e queremos ficar próximos aos nossos familiares e outros nem tanto. O que preciso ressaltar aqui é que você deve fazer o que o seu coração mandar e sem culpa e julgamentos.

Nos momentos mais difíceis é reconfortante estarmos cercados de pessoas que saibam acolher a nossa dor, temos a sensação que quando estamos próximos a pessoas que passaram ou passam por situações parecidas, estamos dividindo o sofrimento.

Dê espaço para o seu sofrimento, ele é seu. Respeite o seu tempo. Se quiser ficar sozinha, fique. Se quiser ficar ao lado dos familiares que estão ali, fique! O primordial é você se respeitar, respeitar o seu coração e se acolher.

Uma dica muito importante, diz respeito aos os rituais. Faça algo que te conecte com a pessoa que partiu. Faça coisas que te deixe em paz. Tente acessar, dentro de você, essa pessoa e agradeça a ela a relação que vocês tinham e ainda tem. Não é algo fácil, mas é algo que conforta nosso coração. Ela partiu, mas estará com você o tempo todo. Uma pessoa que estava fora de você agora faz parte de você. Quando estamos no processo de luto, é muito comum não nos encaixarmos nesse momento de festa, queremos nos recolher. Cobranças externas podem acontecer, as outras pessoas querem a nossa presença e a nossa participação, nos falam que é importante estarmos juntos, mas se não for isso que você deseja fazer, não faça. Se não formos sinceros com a nossa dor e com a forma que desejamos vivenciá-la, não estaremos sendo verdadeiros com os nossos sentimentos.

Com o passar do tempo, que é de cada um, vamos percebendo que a celebração familiar é algo muito importante, mesmo a ausência e a dor estando ali presentes. Ao mesmo tempo em que sinto a dor da ausência sou grata por amar tanto e sou grata também às pessoas que ainda estão presentes na minha vida.

Uma perda nos ensina a valorizar a vida. Faz-nos pensar que precisamos celebrar a vida dos que amamos e que estão presentes. Depois que experimentamos a dor do luto, o medo de outras perdas ficará evidente e o que podemos fazer é estarmos presentes na vida dessas pessoas. Pode parecer estranho falar isso, mas com o passar de muito tempo, percebemos que aprendemos muito com as perdas, cada uma trás um novo significado e uma nova reflexão porque nos transformaremos em outras pessoas. Ficamos feridos e a única opção que temos é encarar essa dor de frente. Perceberemos que se continuarmos a manter o foco na perda, não conseguiremos participar e celebrar a vida das pessoas que estão à nossa volta.

Durante o luto nos sentimos órfãos e muitas vezes, parece que não tem saída. No luto começamos várias transformações. Algo que tinha muita importância passa a não ter e vice versa. Passamos por um momento de transformação interna. O vazio se instala e esse lugar não será ocupado. É como um lugar vazio na mesa. Faremos uma ressignificação e com isso conseguiremos prosseguir com o nosso caminhar.

Enfim, acredito que o primordial é permitir-se.  Faça aquilo que fizer sentido para você e te trouxer um significado.

“O que a memória ama fica eterno. Te amo com a memória, imperecível.”(Adélia Prado)

HERICA CRISTINA FERNANDES
Últimos posts por HERICA CRISTINA FERNANDES (exibir todos)
Deixe seu comentário aqui
Assine nossa newsletter

Outros posts que você também pode gostar

Assine nossa newsletter

Fique por dentro dos melhores conteúdos sobre bem-estar, saúde e qualidade de vida

Saúde mental, bem-estar e inovação que seu colaborador precisa

Através do nosso programa de saúde mental, as empresas reduzem perdas com afastamento do trabalho por demandas emocionais.