Dificuldades de comunicação, de linguagem e de socialização. De uma forma bem ampla esses são os sintomas clássicos de uma pessoa com autismo – um tipo de transtorno do desenvolvimento que tem sido cada vez mais estudado e debatido pela sociedade, inclusive com personagens em novelas e seriados.
Apesar de a condição estar mais em evidência, nem todas as pessoas sabem que existem tipos de autismo diferentes e que, muitas vezes, é possível sofrer com o autismo sem, necessariamente, demonstrar os sintomas mais clássicos.
Quer entender melhor o assunto? Continue a leitura!
O que é o autismo?
O autismo, ou Transtornos do Espectro Autista (TEA), como dissemos na introdução é um transtorno do desenvolvimento, ou seja, que costuma aparecer logo nos primeiros anos de vida, comprometendo as habilidades comunicacionais e de interação social.
De acordo com os dados do Center of Deseases Control and Prevention, CDC, o autismo afeta 1 a cada 110 pessoas no mundo. Assim, a estimativa é que no Brasil existam mais ou menos 2 milhões de autistas.
De uma maneira geral, o transtorno se define pela presença de déficits persistentes na interação social e na comunicação. Até hoje ainda não se sabe a causa precisa do autismo – e por isso o diagnóstico é realizado, principalmente, por meio da observação do paciente.
Como o transtorno autista se relaciona a inúmeros elementos essenciais da vida do indivíduo, diagnosticá-lo como autista e proceder com o tratamento adequado é de suma importância, trazendo mais qualidade de vida a pessoa que sofre com a condição.
Quais são os tipos de autismo?
Como você viu, autismo não é tudo igual e existem vários graus, com intensidade dos sintomas maior ou menor.
É possível que alguns autistas enfrentem dificuldades de aprendizado, enquanto outros podem ter uma vida aparentemente “normal”, mas ainda assim sentirem que não se “encaixam” na sociedade, especialmente pelas dificuldades de socialização.
Veja os tipos de autismo mais comuns e suas principais características.
1- Síndrome de Asperger
É considerada a forma mais leve entre os tipos de autismo e é três vezes mais comum em meninos do que em meninas. Normalmente, quem possui a síndrome conta com uma inteligência bastante superior à média e pode ser chamado também de “autismo de alto funcionamento”.
Também é normal que esse autista se torne extremamente obsessivo por um objeto ou um único assunto – e passe horas discutindo ou falando sobre o assunto.
Se a Síndrome não for diagnosticada na infância, o adulto com Asperger poderá ter mais chances de desenvolver quadros depressivos e de ansiedade.
2- Transtorno Invasivo do Desenvolvimento
Essa é uma “fase intermediária”, já que ela é um pouco mais grave que a Síndrome de Asperger, mas não tão forte quanto o Transtorno Autista.
Nesse caso, os sintomas são muito variáveis. Porém, de uma maneira geral o paciente apresentará:
- quantidade menor de comportamentos repetitivos;
- dificuldades com a interação social;
- competência linguística inferior à Síndrome de
- Asperger mas superior ao Transtorno Autista.
3- Transtorno Autista
São aqueles que apresentam sintomas mais graves que os dois outros tipos de autismo. Neste caso, várias capacidades são afetadas de forma mais intensa, como os relacionamentos sociais, a cognição e a linguística. Outro fator bem comum é a presença intensificada dos comportamentos repetitivos.
Esse é o tipo “clássico” de autismo e que costuma ser diagnosticado de forma precoce, em geral antes dos 3 anos. Os principais sinais que indicam a condição são:
- falta de contato com os olhos;
- comportamentos repetitivos como bater ou balançar as mãos;
- dificuldades em fazer pedidos usando a linguagem;
- desenvolvimento tardio da linguagem.
4- Transtorno Desintegrativo da Infância
É considerado o tipo mais grave do espectro autista e o menos comum. Em geral, a criança apresenta um período normal de desenvolvimento, porém a partir dos 2 aos 4 anos de idade, ela passa a perder as habilidades intelectuais, linguísticas e sociais sem conseguir recuperá-las.
Quais os principais níveis do autismo?
Além dos diferentes tipos de autismo, também existem variações em relação aos níveis de gravidade. Eles são:
Nível 1 (Leve)
As crianças apresentam dificuldades para iniciar a relação social com outras pessoas e podem ter pouco interesse em interagir com os demais, apresentando respostas atípicas ou insucesso a aberturas sociais. Em geral, apresentam dificuldades para trocar de atividades e problemas de planejamento e organização.
Nível 2 (Médio)
As crianças podem apresentar um nível um pouco mais grave de deficiência nas relações sociais e na comunicação verbal e não verbal. Têm limitações em iniciar interações sociais e prejuízos sociais aparentes mesmo com a presença de apoio.
Além disso, são mais inflexíveis nos seus comportamentos, apresentam dificuldades com a mudança ou com os comportamentos repetitivos e sofrem para modificar o foco das suas ações.
Nível 3 (Grave)
Nesse nível, existem déficits bem mais graves em relação a comunicação verbal e não verbal, além de dificuldades notórias para iniciar uma interação social, com graves prejuízos de funcionamento.
Também apresentam dificuldade extrema em lidar com a mudança e com comportamentos repetitivos – o que interfere de forma mais acentuada no seu funcionamento. Ainda contam com grande sofrimento para mudar o foco das suas ações.
Como é o autismo em mulheres?
O autismo é uma síndrome que costuma apresentar sintomas mais expressivos nos meninos do que nas meninas. E com isso muitas mulheres podem passar a vida subdiagnosticadas, ou seja, estando em algum dos espectros do autismo mas sem terem o diagnóstico fechado.
Normalmente, apenas as meninas com o tipos de autismo mais graves costumam receber o diagnóstico logo na infância, enquanto outras com níveis mais leves passam “desapercebidas” ou com diagnósticos errados, como transtorno obsessivo compulsivo, transtorno de personalidade limítrofe, agorafobia, entre outros.
Isso acontece, geralmente, porque as meninas apresentam menos atitudes restritivas e repetitivas, além de conseguirem “camuflar” melhor os sintomas, imitando comportamentos sociais de outras crianças da sua idade.
Porém, com a chegada da adolescência, essa “camuflagem” se torna mais difícil de ser mantida, e muitas enfrentam a depressão e as síndromes de ansiedade. Apesar disso, nem todas são diagnosticadas corretamente e levam essas questões para a vida adulta, o que torna cada vez mais difícil para elas se relacionarem e terem uma vida autônoma com qualidade.
Não são raros os casos em que as mulheres apenas recebem o diagnóstico de autismo quando adultas. A boa notícia é que cada vez mais os pesquisadores têm buscado estudar o autismo em mulheres, desenvolvendo métodos de diagnóstico que sejam mais precisos para elas.
Quais os principais sintomas?
São muitos os sintomas do espectro autista. Em geral eles são observados logo na infância, mas como você viu, por existirem vários tipos e níveis, muitas vezes o problema pode se alastrar até a vida adulta.
De forma geral, podemos citar como sintomas:
- entre 8 a 10 meses, a criança autista pode apresentar falta de resposta quando for chamada e desinteresse com as pessoas ao redor;
- apresentam dificuldades em participar de brincadeiras em grupo, preferindo sempre brincar sozinhas e dificuldades em interpretar expressões faciais e gestos;
- crianças com autismo podem não balbuciar e nem aprender a comunicar com gestos;
- atraso anormal na fala;
- quando começam a falar, os autistas podem ter dificuldades para combinar palavras em frases que façam sentido ou repetir a mesma frase várias vezes;
- os comportamentos repetitivos e incomuns são sintomas clássicos, algumas ações que podem estar presentes são: balançar o corpo, bater as mãos, reorganizar objetos e repetir palavras e sons;
- quando adultos, os autistas podem se tornarem obsessivos por determinados temas, como datas, números ou assuntos.
Além disso, alguns autistas podem apresentar: acessos de raiva, hiperatividade ou excesso de passividade, necessidade intensa de repetição, baixa capacidade de atenção, movimentos corporais repetitivos, dificuldades para lidar com determinados ruídos, aumento ou diminuição da resposta à dor e falta de empatia.
Como é feito o diagnóstico?
Em geral, o diagnóstico do autismo é clínico, ou seja, é realizado por meio da observação direta do comportamento da criança, além de uma entrevista com os pais ou os responsáveis. Normalmente, são os pais que notam os primeiros sintomas – que costumam estar presentes logo nos primeiros 3 anos de vida da criança.
Porém, em alguns casos, é possível que o diagnóstico seja feito apenas na adolescência ou logo no início das atividades escolares – fase em que a criança pode apresentar dificuldades para fazer amigos e se relacionar com os colegas.
Em outras situações, principalmente nos níveis mais leves, o diagnóstico apenas acontece na fase adulta. Nesses casos, é comum que o próprio paciente perceba em si alguns dos sintomas e busque a ajuda de um psiquiatra ou psicólogo.
Existe tratamento?
Ainda que não exista cura, o autismo tem sim tratamento, capaz de melhorar a qualidade de vida do paciente. Em geral, uma equipe multidisciplinar é indicada, já que cada especialista trabalhará uma dificuldade específica do autista.
Costuma-se indicar acompanhamentos com:
- fonoaudiólogo que poderá acompanhar a criança no desenvolvimento da linguagem não-verbal e verbal;
- ludoterapia, ou seja, por meio de jogos e brinquedos o terapeuta trabalha a interação social e o contato visual da criança;
- análise aplicada de comportamento, com o objetivo de amenizar determinados comportamentos nocivos e estimular outros;
- grupos de habilidades sociais para praticar as interações sociais do dia a dia e melhorar o comportamento social;
- medicamentos que, embora não sejam específicos para o autismo, ajudam com possíveis problemas emocionais comuns no espectro como ansiedade, hiperatividade, ataques de raiva, impulsividade, agressividade e alterações de humor.
Como você viu, existem inúmeros tipos de autismo e também graus de comprometimento, por isso nem todos os autistas são iguais ou apresentam os mesmos sintomas.
De qualquer forma, é muito importante para o autista contar com uma rede de apoio, em especial da família, compreendendo suas limitações e dificuldades e ajudando-os a enfrentarem os seus desafios.
Para quem sofre com o autismo, a dica é sempre procurar ajuda, tanto com profissionais especializados, como com grupos de autistas.
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REFERÊNCIAS
Amy, Marie Dominique. Enfrentando o autismo. Zahar, 2001.
Melo, Stéfanie. “Escolarização de alunos com autismo.” Revista Brasileira de Educação Especial (2016).
Zanon, Regina Basso, Bárbara Backes, and Cleonice Alves Bosa. “Identificação dos primeiros sintomas do autismo pelos pais.” Psicologia: Teoria e Pesquisa 30.1 (2014): 25-33.
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