Novembro Azul: Por que é tão importante quebrar esse tabu?

Novembro Azul: Por que é tão importante quebrar esse tabu?

Em novembro, o mundo se une para debater sobre a importância da prevenção do câncer de próstata. Este é o tipo de câncer que mais afeta a saúde do homem e estatísticas do Instituto Nacional do Câncer (INCA) mostram que, entre 2020 e 2022, cerca de 65.840 homens receberão o diagnóstico da doença.  

Mas você já ouviu alguém dizer que alguns homens só procuram atendimento médico quando a dor está muito forte? Por que será que os homens não se preocupam tanto com a sua saúde? 

Bom, nós entrevistamos os psicólogos Aristeu JúniorJeferson Pereira, que fazem parte da plataforma da Psicologia Viva e têm experiência no assunto. Assim, vamos entender o que está por trás deste fenômeno. 

A importância do Novembro Azul

O Novembro Azul é um dos meses coloridos do ano, em que algumas causas são lembradas. Neste caso o debate não é apenas da prevenção do câncer de próstata. Para Jeferson, “a conscientização é também parte do cenário, pois o público masculino é absurdamente resistente a buscar saúde e aos acompanhamentos”. 

De fato, uma pesquisa da Abril aponta que “no Brasil, quase 40% dos homens até 39 anos e 20% daqueles com mais de 40 só vão ao médico quando se sentem mal”.

Aristeu relatou a sua experiência na gestão pública de saúde: “os homens só procuram a saúde no último momento. Conheço alguns casos de homens que [morreram] porque já não tinha muito a ser feito”.

O que pode está por trás dessa resistência pela busca de ajuda? Uma hipótese é o medo de ser julgado como frágil.

Por isso, dedicar um mês inteiro para falar sobre o cuidado masculino, sem medo e sem julgamento, é tão importante. “Ainda mais quando falamos de uma questão super íntima e cheia de tabus como é a questão não só do exame, mas do diagnóstico do câncer de próstata”, acrescenta Aristeu.

O diagnóstico do câncer de próstata

Em sua experiência clínica, Jeferson tem contato com pacientes com doenças crônicas. Sobre isso, ele explica: “o câncer é como uma epidemia silenciosa, com tratamento difícil e para muitas famílias traz a sombra da morte”. Com muitas implicações, é fácil entendermos o porquê da adesão não ser tão alta.  

Nesses caso, é preciso o apoio não só da família, mas de uma equipe multidisciplinar. O psicólogo explica o motivo: “na terapia nós damos o acolhimento, mas também questionamos e provocamos, porque não adianta o paciente fazer um tratamento super caro, se ele já entra derrotado, achando que não vai dar certo, é como se ele não quisesse enfrentar isso.” 

Jeferson estuda muito a saúde de forma integral e destaca um aspecto psicológico que pode estar relacionado com o câncer de próstata: “estudos relacionam a próstata com a forma como o homem lida com o poder, a relação dele com o controle, ser controlado e exercer esse poder e controle.”

Claro que, apesar dessa comparação não ser de causa e efeito, é interessante pensarmos neste ponto de vista, porque isso pode explicar muito sobre as doenças psicossomáticas:

“O menino que cresceu ouvindo que homem não chora vai se tornar um homem que reprime e acoberta todas as frustrações e sentimentos, tudo o que não consegue lidar ou resolver, as emoções, as angústias. Na maioria das vezes, aquilo que eu não falo ou expresso, meu corpo descarrega de alguma outra forma.”

Mas por que então o homem é tão resistente para o tratamento? É o que vamos descobrir a seguir.

Aspectos psicológicos por trás deste comportamento 

Aristeu e Jeferson nos fazem um convite para refletirmos sobre os pensamentos e falas que temos em relação à masculinidade, mas que não percebemos. Quantas vezes não julgamos um homem que chora ou mostra a sua dor? Quantas vezes não dizemos que ele é fraco por conta disso?

Mas calma, não fazemos isso por mal. Isso vem de um processo histórico e de vários fatores:

Cultura

A cultura tem um papel muito forte na ideia de masculinidade. Sobre isso, Jeferson diz: “crescemos aprendendo que homem não pode ser fraco, e estar diante de um profissional da saúde, muitas vezes, é entendido como essa fraqueza”.

Por exemplo, se perguntarmos qual é o médico da mulher, você provavelmente dirá: “ginecologista”. Agora, se a pergunta for qual é o médico do homem, qual será a sua resposta?

As pessoas fazem piada com isso, o que muitas vezes reforça o medo de julgamento. 

Educação

Outro ponto muito importante para nos aprofundarmos na questão da masculinidade é a educação. Quem vai explicar um pouco disso para a gente é o Aristeu: “se formos pensar, todos os grandes heróis e vilões são homens”. Nós aprendemos a relacionar a masculinidade com o poder e se, de alguma forma, nossas expectativas não são atendidas, nós julgamos. 

Ele complementa: “é preciso uma educação que compreenda o homem em suas especificidades, rompe estereótipos sociais e culturais, e forma homens que exercem o autocuidado.” 

Para exemplificar a importância de uma educação que conscientize, o psicólogo cita o exemplo da saúde da mulher, que já é uma realidade de discussão nas famílias e diversos grupos. 

Segundo ele, esse tipo de debate é mais comum no universo feminino, pois as mulheres foram incentivadas por anos a terem mais autocuidado e a ir ao médico com maior frequência.

O trabalho 

Se de um lado as mulheres eram “cobradas” para o cuidado, os homens tinham que trabalhar. Aprendemos que eles têm que ser produtivos, o sustento da família. É como se o homem pensasse que ele é uma máquina e que, quando algo der errado, basta substituir as peças quando derem defeito, mas as coisas não funcionam assim.

As situações que vivemos no dia a dia impactam no nosso sistema operacional e se isso não for cuidado, o risco dessa “máquina” ter uma pane elétrica é muito grande.

Por isso é importante pensar no estilo de vida enquanto uma ferramenta terapêutica, ter um tempo para se olhar, ter um hobbie, um momento em que você fica com você mesmo e desenvolve outras potencialidades.

Se você chegou até aqui, muito bem! Esse texto foi só uma aquecida para pensarmos por que os homem não buscam atendimento tão frequentemente e também sobre a importância do Novembro Azul.

Ainda tem muito para os nossos psicólogos falarem! Acompanhe a parte dois da nossa conversa, pois vamos falar sobre o papel da psicologia na desconstrução desses pensamentos. Te esperamos!

Referências

  1. https://www.inca.gov.br/campanhas/cancer-de-prostata/2020/saude-do-homem
  2. https://perfil.psicologiaviva.com.br/aristeujunior
  3. https://perfil.psicologiaviva.com.br/jefersonandrei
  4. https://saude.abril.com.br/medicina/pesquisa-mostra-onde-os-homens-pisam-na-bola-com-a-saude/
  5. https://blog.psicologiaviva.com.br/o-trauma-e-a-psicossomatica/
  6. https://blog.psicologiaviva.com.br/saude-mental-do-homem/
Psicologia Viva
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