A morte para muitos ainda é um tabu, e quando a ordem natural da vida se rompe e um filho morre sendo gestado ou logo após o nascimento, rompe com a ordem natural da vida, rompe com os sonhos e fantasias que os pais já haviam depositado sobre o bebê.
Nas palavras de Torloni (2007, p. 297), “A morte de um feto é a morte de um sonho”.
Características do luto
O luto é um processo lento e doloroso, que tem como característica:
- Tristeza profunda,
- Choque,
- Raiva,
- Hostilidade,
- Agitação,
- Ansiedade,
- Fadiga,
- Aperto no peito,
- Afastamento de toda e qualquer atividade que não esteja ligada a pensamentos sobre o objeto perdido,
- Perda de interesse no mundo externo.
Não raro o emocional, biológico, cognitivo e espiritual é desestruturado no processo de luto, assim como o sistema imunológico, tornando o indivíduo mais suscetível a doenças.
Há estudos que apontam que o índice de mortalidade em pessoas enlutadas é maior do que em pessoas não-enlutadas e que os indivíduos enlutados têm mais chance de desenvolver distúrbios psiquiátricos.
A singularidade do luto
É necessário entender que o tempo de gestação não determina a intensidade e duração da dor, o luto é singular, único, e cada um vai experimentar a seu modo.
As 4 fases do luto
De acordo com John Bowlby (1990) o luto apresenta 4 fases,
- Desorientação, Torpor, Negação e Isolamento;
- Anseio e Busca da figura perdida;
- Dor Profunda e Desespero;
- Reorganização e Reelaboração.
Entende-se que se estas fases não são vivenciadas e ultrapassadas num determinado período de tempo, podem por vezes se tornar um luto patológico, pois o tempo pode variar de acordo com os significados que lhe são atribuídos.
O luto patológico
O luto patológico pode ser definido como a “intensificação do luto a um nível em que a pessoa se encontra destroçada, originando um comportamento não adaptativo em face da perda, permanecendo interminavelmente numa única fase, impedindo a sua progressão com vista à finalização do processo de luto”
O fato de as pessoas não saberem como lidar com a morte, faz com que ela não consiga lidar com a dor do outro, e com a intenção de minimizar o sofrimento falam frases clichês como:
- Você é muito nova;
- Foi melhor agora, logo você tá aqui grávida de novo;
- Imagina se nasce cheio de problemas;
- Não chora, você é forte;
- É melhor não pensar mais nisso.
Essas frases impossibilitam que os pais consigam falar dessa dor e encontre um destino para todos os sentimentos, para a ressignificação do luto é necessário que se fale dele, que dê nome aos sentimentos, para que assim possam elaborar esse luto, o luto que não é elaborado pode aparecer em outro momento da vida.
Esquecer não é o caminho
Muitas vezes os mais próximos silenciam essa dor, achando que evitando falar sobre, vai ser mais fácil esquecer e superar. ESQUECER NÃO É O CAMINHO. Autorize esse luto, de espaço para que essa família possa falar.
Para que o cuidado seja individualizado é necessário humanizar a assistência à perda perinatal. Não é um feto, não é um natimorto, é o João a Maria, eles têm nome e família, fazem parte da história de alguém. Os sentimentos diante da perda são atemporais e universais, podendo acometer cada um de nós.
Como ter um cuidado humanizado
- Respeite e escute a opinião dos pais;
- Assegurar os pais que é normal se sentir desconfortável nessa situação, o que inclui não querer ver o bebê em determinados momentos;
- Ofereça tempo e oportunidade para ficar com o bebê;
- Informe os pais sobre todos os procedimentos que serão realizados;
- Chame o bebê pelo nome;
- Faça uma “caixinha de memórias”, organizando dentro os pertences do bebê, tais como: mecha de cabelo, clamp umbilical, pulseirinha de identificação, cartão com o carimbo do pezinho, cartão da incubadora.
- Esses itens serão de suma importância para proporcionar conforto por meio de memórias
O papel do psicólogo no processo de luto
O psicólogo é um profissional preparado para oferecer uma escuta clínica e especializada, seu papel é indispensável. Temos como principal objetivo criar um espaço de abertura e conforto para que o enlutado possa dialogar sobre a dor que sente e elaborar essa vivência.
Sentimento de culpa, dificuldade de lidar com a separação, mágoas e rancores podem ser abordados no atendimento, permitindo construir novos significados para as experiências vividas.
Assim, o psicólogo ajuda o indivíduo a ter um espaço para expressar a dor e a criar novos sentidos (existencial) à experiência da perda e sofrimento que orientando para que consiga elaborar esse luto e permitindo vivenciar o luto de maneira respeitosa.
Para que assim o enlutado consiga recurso para dar sentido Utilizamos de estratégia clínica, a psicoterapia (tanto individual, como de grupo ou familiar), ambas em geral terão um objetivo que cabe para todas as situações de luto, o de elaboração do luto, a de favorecer a criação de suportes e alavancas para que a pessoa possa se adaptar à condição de viver sem aquele que se foi e estabelecer novos sentidos que possam ser compreendidos como uma reorganização de sua subjetividade e das novas possibilidades de existir que se mostram a partir de então.
Benefícios do apoio psicológico no luto
O espaço com o psicólogo permite a expressão da dor e também a transformação da angústia em palavras, oferecendo alívio e conforto.
Situações mal resolvidas podem ser trabalhadas e discutidas, possibilitando que o sujeito repense esses contextos e crie novos sentidos para essas lembranças.
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