O autoconhecimento e depressão

O autoconhecimento e depressão

Psicoterapia e Depressão

A depressão é um transtorno cercado de vários preconceitos. Muitas pessoas já ouviram que é falta de Deus, falta de trabalho, e tantos outros termos em tons pejorativos que apenas agravam mais ainda a baixa autoestima e o sentimento de culpa que acometem grande parte das pessoas com a doença.

A psicanálise usa o termo melancolia para expressar a dor que não pode ser dita, a dor do vazio de existir. Infelizmente, a depressão se tornou o mal do século em que a tristeza e desencanto se tornaram epidemia (Peres, 2010).

A psicoterapia é parte necessária do tratamento contra a depressão. Muitos acreditam que a medicação sozinha resolve. Isso é um engano, pois, o remédio ajuda com os sintomas, mas o tratamento deve ser em conjunto com a psicoterapia. Com o tratamento adequado, a pessoa consegue sair da crise e voltar a ter uma vida funcional; consegue prevenir futuras crises; e mesmo quando essas acontecerem, os sintomas se manifestam com menos intensidade e o tempo para sair da crise é menor.

 

O que é e os principais sintomas

A depressão é um transtorno e se manifesta pela persistência de um conjunto de sintomas por um período mínimo de duas semanas. Pode ocorrer em único momento desencadeado por um evento, como um trauma, por exemplo; ou pode se manifestar em vários momentos da vida da pessoa (transtorno depressivo recorrente). 

Os sintomas mais comuns da depressão são:

  • Tristeza (maior parte do tempo ou todos os dias),
  • Perda de interesses em atividades antes prazerosas,
  • Mudanças alimentares (falta de apetite ou ganho de peso não intencional),
  • Problemas para dormir (insônia ou sonolência excessiva),
  • Cansaço exagerado,
  • Baixa autoestima,
  • Sentimentos de culpa e inutilidade frequente,
  • Falta de concentração, pensamentos de morte e suicídio. 

Estima-se que de 3% a 5% da população geral sofre de depressão. Já em pacientes ambulatoriais o número sobe para 5% a 10% e para 9% a 16% em pacientes internados. Mesmo a alta incidência, a depressão ainda é subdiagnosticada e quando diagnosticada de forma correta ainda é tratada de forma inadequada (Teng, Humes e Demetrio, 2005).

 

Principais Causas e Fatores de Risco

Há três grandes grupos de fatores que causam a depressão: a genética, a bioquímica cerebral e os eventos vitais. E há também os fatores de risco que podem contribuir para o desenvolvimento da depressão (Ministério da Saúde, 2020).

A depressão é transmitida geneticamente. Estima-se que esse componente represente 40% da suscetibilidade de desenvolver depressão. A bioquímica cerebral é a deficiência de substâncias cerebrais, os neurotransmissores, que afetam a regulação da atividade motora, o apetite, o sono e o humor. São elas a Noradrenalina, a Serotonina e a Dopamina. Os eventos vitais são eventos estressantes que podem desencadear episódios depressivos naqueles que já têm a predisposição genética. 

Os fatores de risco que podem contribuir para a depressão são: 

  • Histórico familiar;
  • Transtornos psiquiátricos;
  • Estresse crônico;
  • Ansiedade crônica;
  • Disfunções hormonais;
  • Dependência de álcool e drogas ilícitas;
  • Traumas psicológicos;
  • Doenças cardiovasculares, endocrinológicas, neurológicas, neoplasia, entre outras;
  • Conflitos conjugais;
  • Mudanças bruscas de condições financeiras e desemprego.

 

Alguns Fatores Protetivos

Os fatores protetivos são atividades rotineiras que ajudam a pessoa com depressão atuando tanto na contenção da crise depressiva como ajudam a não se ter um novo episódio. Os mais utilizados são: a psicoterapia, a medicação e a atividade física.

A psicoterapia é importante no processo de tratamento da depressão. Através dela a pessoa passa primeiro pelo acolhimento e no decorrer da terapia, na medida que a fala vai fluindo, os pensamentos vão se organizando e a pessoa consegue enxergar novos caminhos, objetivos e sonhos que temporariamente ficam embaçados pela dor.

A medicação deve ser prescrita por um psiquiatra e é necessária quando a crise depressiva está agudizada, ou seja, os sintomas estão muito fortes e a pessoa já apresenta descompensação orgânica do corpo. Assim, a medicação regulariza a química do corpo. A atividade física atua de forma semelhante, pois, ao se exercitar, o corpo libera substâncias como a serotonina e a adrenalina que são responsáveis pela sensação de bem-estar e regulando o humor, ajudando a pessoa a ter mais ânimo para as atividades diárias.

 

Ajudando o outro e a si

Muitas coisas podem ser feitas para que a pessoa com depressão se sinta melhor. Manter um estilo de vida saudável pode prevenir crises e/ou novas crises. Atitudes como:

  • Ter uma dieta equilibrada;
  • Praticar atividade física regularmente;
  • Combater o estresse (concedendo tempo na agenda para atividades prazerosas);
  • Evitar o consumo de álcool;
  • Não usar drogas ilícitas;
  • Diminuir as doses diárias de cafeína;
  • Ter uma rotina regular de sono;
  • Não interromper o tratamento sem orientação médica,
  • Etc.

Caso você conheça alguém com depressão, algumas atitudes simples podem ajudar. Primeiro, compreenda que o tratamento é fundamental. Incentive-o a fazer a psicoterapia, apoie o tratamento, leia sobre a doença, fale com a pessoa sobre o transtorno, mantenha o contato com a pessoa querida, incentive a prática de atividades prazerosas, ajude-o a se concentrar em metas pequenas, encontre serviços de apoio e saiba o momento de ficar em silêncio. Em alguns momentos, pode ser necessário um abraço, estar ao lado, um acolhimento.

 

Finalizando

O autoconhecimento através da psicoterapia é um grande aliado na luta contra a depressão. Através dele é possível sair do quadro depressivo e também perceber os primeiros sinais dos sintomas do transtorno depressivo e, por consequência, reforçar os fatores protetivos evitando assim uma crise grave ou aguda.

A terapia é o momento do paciente. O setting terapêutico é o lugar seguro em que a pessoa pode desnudar pensamentos e sentimentos, para que possa assim entendê-los. Validar o que está sentindo, ser acolhido no seu sofrimento e haurir forças para lutar um dia de cada vez.

Para você, que está passando pela luta contra essa doença que é cercada de preconceitos, pratique os fatores protetivos. Faça terapia! Caso precise procurar um psiquiatra e tomar medicação, não tenha vergonha!

Coragem é enfrentar a si mesmo!

 

Referências:

Ministério da Saúde, 2020. www.saude.gov.br. Acesso em 15/03/2020 às 19:56.

Peres, U. T., 2010. Depressão e melancolia. Zahar: São Paulo.

Teng, C.T., Humes, E. de C. & Demetrio, F. N., 2005. Depressão e comorbidades clínicas. Rev. Psiquiatr.clín. vol. 32, no. 3.

Ana Paula Alves Morais Paula Alves Morais
Últimos posts por Ana Paula Alves Morais Paula Alves Morais (exibir todos)
Deixe seu comentário aqui
Assine nossa newsletter

Outros posts que você também pode gostar

Assine nossa newsletter

Fique por dentro dos melhores conteúdos sobre bem-estar, saúde e qualidade de vida

Saúde mental, bem-estar e inovação que seu colaborador precisa

Através do nosso programa de saúde mental, as empresas reduzem perdas com afastamento do trabalho por demandas emocionais.