Psicologia, sexualidade e gênero: como as relações de gênero podem interferir no seu cotidiano?

Psicologia, sexualidade e gênero: como as relações de gênero podem interferir no seu cotidiano?

O gênero pode ser interpretado muitas vezes como um conceito abstrato, teórico e ideológico que sofre distorções que implicam, sutil ou intensamente, no cotidiano das relações sociais e estruturais da sociedade.

Você pode não perceber diretamente, mas as relações de gênero estão o envolvendo o tempo todo e em todos os espaços – da sua relação consigo mesmo, no seu lar ou mesmo nas políticas públicas.

Quando falamos de gênero, estamos dizendo das diversas modalidades de identidade e expressão de gênero e suas situações singulares e plurais: ser mulher, ser homem, ser trans, não-binário, entre outras expressões. Cada uma dessas modalidades e potencialidades de identificação e expressão de gênero possuem especificidades na sua vivência diária que devem ser levadas em consideração. Ser mulher nesse mundo e momento histórico acarreta situações e experiências diferentes de ser travesti, por exemplo. 

O gênero permeia, assim, toda a estrutura social, desde o desenvolvimento da identidade singular de uma pessoa até o poderio político. Não por menos, os movimentos feministas atuam desde o momento histórico da escravidão, com as mulheres negras que lutavam pelo direito à liberdade, até a ascensão do transfeminismo, com a reivindicação dos direitos das mulheres, travestis e pessoas trans.

Como as relações de gênero interferem na minha vida?

Se você é mulher, provavelmente já se deparou com situações onde foi colocada como objeto sexual, foi assediada de diversas maneiras, teve sua liberdade ou dignidade ferida, foi submetida a posições inferiores ou desvalorizada, mesmo sendo mais capacitada do que os outros.

Não somente isso, mas também corre diariamente o risco de sofrer violência física, sexual ou psicológica somente por ser mulher. Para alcançar posições, destaques ou mesmo ter liberdade e dignidade equivalentes aos homens, sente que tem e precisa fazer um esforço muito maior para obter o mesmo reconhecimento e, mesmo assim, não consegue. 

Se você é uma pessoa trans, sua vida corre risco em todas as instâncias. Pois tamanha a violência com que sua experiência continua a ser tratada dentro da sociedade. De ser rotulado como doente mental até sofrer violências físicas e sexuais corretivas, muitas vezes nem mesmo o direito ao nome e pronome lhe é permitido.

Sua identidade pode ser negada por aqueles que lhe cercam, sua liberdade de ser quem é fica restringida a padrões que não condizem com sua identidade e expressão de gênero, nem mesmo o acesso à educação, saúde ou simplesmente ao uso do banheiro lhe é garantido. 

Se você é homem, também não está imune. Embora dotado de privilégios em relação às mulheres, travestis e pessoas trans, você também pode sentir o impacto das relações de gênero no seu cotidiano. Homem não chora. Homem não pode ser feminino, sentimental ou afetivo. Os padrões de masculinidade que a cultura machista impõe a você podem fazer com que se sinta inseguro, inferior ou “menos homem” por não corresponder a uma masculinidade caracterizada como tóxica. De você é cobrado que sustente a virilidade agressiva histórica.

Por que isso acontece?

Os poderes sociais, culturais, econômicos e políticos históricos que dominam há séculos a humanidade são fundadores e mantenedores do modelo tóxico, machista e patriarcal que exclui e violenta nossas vidas. As diversas instituições da sociedade sustentam crenças que são transmitidas de geração em geração, repetidas através desses pequenos ou graves atos cotidianos entre as pessoas.

Eu, você, nossos familiares – todos nós nos desenvolvemos imersos em uma sociedade que nos transmite o machismo e a toxicidade em relação ao gênero e suas expressões. Somos ludibriados das mais diversas formas a pensar que esse é o “normal”, que esse tipo de relação de gênero é o “correto”. Nossa identidade se molda para a repetição da violência de gênero em todos os aspectos da vida. Somos violentados e violentamos sem ao menos perceber o que está por detrás desse mecanismo que é social e histórico. 

A mudança começa em você – em nós. Sem uma reavaliação daquilo que você acredita e pensa sobre as relações de gênero, não há mudança. Para que seja possível que alcancemos como comunidade, grupo ou sociedade relações que sejam equitativas – do conceito de equidade e justiça social – é preciso que nos transformemos pessoalmente. 

Psicoterapia e engajamento social

O engajamento e o diálogo com os movimentos sociais facilita que seu conhecimento acerca dessas questões se amplie e se aprofunde. O contato com pessoas e grupos que discutem gênero e lutam por direitos favorece a desconstrução e a empatia para com esse tema. Você pode procurar pessoas e comunidades que são referências nos movimentos sociais e, assim, permitir-se (re)aprender os sentidos, significados e as implicações das relações de gênero no seu cotidiano e na sociedade – seja você mulher, homem ou pessoa trans.

Além disso, é compreensível que você tenha conflitos e angústias a respeito das situações que pode estar vivenciando e que podem ser derivadas das relações de gênero e seus aspectos individuais e seculares.

Busque ajuda de um profissional de psicologia para que você possa aprofundar e ampliar suas questões, sentimentos, sentidos e percepções sobre aquilo que diz respeito também ao gênero e a complexidade dessas relações. Permita-se entrar em um processo que pode facilitar esse aprofundamento em uma relação segura com um profissional capacitado.

As relações de gênero são complexas e precisam de atenção

Como abordado anteriormente, as relações de gênero podem implicar em violências graves, que podem ser explícitas, mas também podem ser tão sutis que você talvez nem perceba que realmente são violências.

Essas opressões implicam negativamente na sua autoestima, autoconfiança, segurança e autocuidado, bem como na sua saúde física e mental. Você não está sozinha(o). Existem organizações e políticas públicas que estão à disposição para lhe ajudar. Ligue 180 se você precisa denunciar violência contra a mulher. Disque 100 para denunciar violência contra pessoas trans. 

Deixo essa reflexão para que você possa se abrir ao questionamento de como tem vivenciado as relações de gênero em seu cotidiano, mas também para alertar sobre os perigos que podem envolver essa temática.

Busque ajuda e acolhimento. Estamos juntos nessa caminhada. 

Matheo Bernardino – CRP-08/25791

(Psicólogo clínico de abordagem humanista-existencial) 

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