Medo, ansiedade e fobias

Medo, ansiedade e fobias

A ansiedade faz parte do ser humano. Eventos de calamidade provocados por desastres naturais ou atos de crime, violência, terrorismo geram um clima social de medo e ansiedade em muitos lugares. Em tempos de pandemia do novo coranavírus, mais uma razão para gerar este clima de preocupação e ansiedade. 

Embora o maior impacto sobre o psicológico de indivíduos diretamente afetados pelas situações de desastres seja nas semanas imediatas após o evento traumático, seus efeitos são evidentes meses e anos mais tarde, através de angústias e preocupações em elevado nível (Beck e Clark).

No entanto, medo, ansiedade e preocupação não acontecem apenas diante situações de desastres e experienciais fatais. A ansiedade vem das pressões e estresses da vida diária. Milhares de pessoas no mundo lutam diariamente contra a ansiedade clínica, a ansiedade que se transforma em doença. 

 

Ansiedade x medo

O medo é uma emoção básica do ser humano e ocorre como uma resposta adaptativa em situações desconhecidas, pois nos protege e nos faz tomar cuidado antes de determinadas atitudes, impedindo comportamentos impulsivos e ousados. Mas também pode ser mal-adaptativo, quando ocorre em uma situação não ameaçadora ou neutra, mas é interpretada como potencial de perigo. 

Segundo Beck, Emery e Greemberg, o medo é um processo cognitivo que envolve avaliação de que há um perigo real ou potencial em uma situação. A ansiedade é uma resposta emocional provocada por medo. Assim, o medo é a avaliação de perigo, e a ansiedade é o estado de sentimento desagradável provocado quando o medo é estimulado.

O medo é a condição automática e básica que está presente em todos os transtornos de ansiedade. A ansiedade é mais permanente e inclui outros fatores além do medo, como aversão, incontrolabilidade, vulnerabilidade, incapacidade para alcançar o resultado desejado. Ambos estão ligados aos pensamentos que temos com relação ao futuro e aí podem surgir pensamentos negativos como: “e se?”: “e se eu não conseguir lidar com essa situação”, “ e se eu morrer”, “ e se der tudo errado”, “e se eu não conseguir fazer”, “e se der errado estou perdido, será meu fim”, “e se eu passar vergonha”… dentre muitos outros. 

“O medo é um processo cognitivo que envolve avaliação de que há um perigo real ou potencial em uma situação”

Medo é natural do ser humano. Todos já tivemos ou temos medo de alguma coisa e/ou alguma situação. Quando nos sentimos ameaçados o medo desperta a tensão e o receio de algo ruim acontecer, preparando-nos para uma situação de “luta ou fuga”.

Medo normal ou anormal?

Mas e como saber se o medo é normal ou anormal ou em que ponto a ansiedade é excessiva e mal adaptativa?

Com base nas leituras de Clark e Beck (2012), podemos sugerir cinco critérios que podem ser usados para diferenciar um do outro: 

  1. Avaliação errada de perigo: uma situação que não apresenta perigo real pode ser entendida como a ativação de crenças disfuncionais do indivíduo, sendo um medo excessivo e irracional. (Ex: reação de medo frente a um cachorro Pitbull solto e a mesma reação de medo frente a um cachorro Poodle Toy na coleira).
  2. Falta de reação de resposta: quando a ansiedade interfere no enfrentamento das situações de ameaça e a pessoa “congela”, não conseguindo ter reação frente ao perigo, sentindo-se paralisada. Conforme o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM V), ele gera sofrimento acentuado ou inferência significativa na rotina, funcionamento ocupacional ou acadêmico, atividades ou relacionamentos sociais normais do indivíduo.
  3. Tempo de duração: quando a ansiedade é patológica, ela persiste muito mais tempo que em situações normais. Apenas de pensar em uma situação de perigo, a pessoa já sente as sensações da ansiedade, o que pode ocorrer de maneira muito frequente e por um longo período.
  4. Alarmes falsos: em transtornos de ansiedade são percebidas a ocorrência de alarmes falsos, classificados como medo ou pânico acentuado, que ocorre na ausência de qualquer estimulo ameaçador da vida, segundo relata Barlow (2002), citado por Clark e Beck (2012).
  5. Hipersensibilidade a estímulo: quando o medo é gerado através da introdução de um sinal externo ou interno que é percebido como potencial ameaça, mesmo que em uma intensidade muito menor que o real perigo.

 

Transtornos Fóbicos (Fobias)

As fobias são classificadas como transtornos de ansiedade e são classificadas como um medo muito intenso e sem razão relacionado a situações, objetos, atividades ou pessoas. É causada uma angústia que faz com que a pessoa passe a evitar a situação que lhe dá medo e muitas vezes imaginam situações que isso pode acontecer, evitando ter contato com a situação, pois o indivíduo não pode arriscar passar pelo evento desconfortável. 

De acordo com o DSM, temos os seguintes tipos de fobias: 

Agorafobia:

Medo ou ansiedade intenso provocado pela exposição real ou prevista a situações, exemplo: uso de transporte público, permanecer em lugares abertos ou fechados, ficar em uma fila ou no meio da uma multidão, pois tem-se pensamentos de que pode ser difícil escapar e ter auxílio se tiver algum sintoma de pânico ou algum comportamento constrangedor. 

Fobia social:

Medo ou ansiedade acentuados em uma ou mais situações sociais que o indivíduo é exposto a possível avaliação de outros. Teme agir de maneira que possa demonstrar sintomas de ansiedade e que poderá ser avaliado negativamente, assim, evita-se lugares públicos, apresentar-se diante de outras pessoas, conversar com pessoas que não são familiares. 

Fobia específica:

Medo ou ansiedade acentuada em uma situação ou objetivo em particular, como por exemplo: altura, voar, animais, ver sangue, água. É comum que se tenha múltiplas fobias específicas.

Crises de ansiedade e pânico 

Segundo Dalgalarrondo, a ansiedade muitas vezes se manifesta através de crises intermitentes, com acontecimento de vários sintomas ansiosos em número e intensidade significativos. Ocorrem sintomas físicos como:

  • Aceleração dos batimentos cardíacos (taquicardia),
  • Suor frio,
  • Tremores,
  • Dificuldade respiratória,
  • Náuseas,
  • Formigamento,
  • Fraqueza,
  • Mal-estar geral. 

Os sintomas emocionais e comportamentais podem ser:

  • Sensação de morte,
  • Medo de perder o controle,
  • Sensação de estar enlouquecendo,
  • Evitar lugares específicos,
  • Medo de ataque cardíaco sem motivos. 

Isso pode ocorrer quando a pessoa pensa ou é exposta à situação que gera o seu medo. Iniciam de maneira abrupta e possuem curta duração. 

Diagnóstico e Tratamento

O transtorno de pânico é diagnosticado quando as crises são recorrentes e com o desenvolvimento de medo de ter novas crises, preocupação com o que pode acontecer decorrente da crise. Causa sofrimento subjetivo significativo com relação ao comportamento do indivíduo, seja profissional, acadêmico, familiar, social e até mesmo lazer. Os ataques de pânico não estão limitados aos transtornos de ansiedade e podem ser vistos em outros transtornos mentais. 

Tanto para transtorno de ansiedade quanto para transtorno de pânico, o diagnóstico é feito apenas por psiquiatra e psicólogo, que definirão qual é gravidade de cada caso. Qualquer sintoma deve ser comunicado ao profissional, pois as crises não são facilmente controladas sozinho e precisam de uma atenção profissional. O tratamento inclui psicoterapia realizada por psicólogo e medicamentos receitados por um psiquiatra. 

A psicoterapia ajuda o paciente a compreender as causas de seus medos e assim trabalhadas com ferramentas para o enfrentamento dessas situações, enquanto o medicamento funciona para reduzir os níveis de ansiedade.  

 

Terapia Cognitiva Comportamental

A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) entende que a forma como pensamos sobre as coisas é o que nos faz sentir medo ou ansiosos. Observamos as coisas que dão errado, sendo negativos e críticos com o que fazemos e com o meio em geral, acreditamos não sermos capazes de lidar com as dificuldades e com as mudanças.

Quando isso acontecer, você precisa assumir o controle para aprender a vencer sua ansiedade. É necessário mudar a maneira como pensamos para podermos nos sentir menos ansiosos e a TCC pode lhe ajudar nisso, pois é uma das melhoras formas para trabalhar esses casos, por ser uma abordagem com evidências científicas, estruturada e diretiva, possui metas definidas e participação ativa do paciente no seu processo de mudança.

Gostaria de esclarecer dúvidas referentes a este assunto? Me manda uma mensagem, estou à disposição para conversarmos. 

Referências Bibliográficas

Beck, A. T.; Clark, D. A. Terapia cognitiva para os transtornos de ansiedade: ciência e prática. Porto Alegre – Artmed, 2012. 

Dalgalarrondo, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 3 ed – Porto Alegre, Artmed, 2019.

DSM V. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. American Psychiatric Association. 5 ed – Porto Alegre, Artmed, 2014.

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