Pensando um pouco na demanda frequente que nos deparamos no cotidiano clínico, talvez seja importante “dialogarmos” um pouco sobre a queixa referente ao sintoma de ansiedade, fato que traz sofrimento para o sujeito, que domina seus pensamentos, e, consequentemente, seu comportamento.
Mas o que será que causa isso?
Vejamos, podemos pensar por alguns esquemas psíquicos, vamos dar início ao sintoma coligado ao medo.
Algumas pessoas consideram-se ansiosas por sentirem medo de algo que existe na realidade, logo, a mente e o corpo delas “se alteram” simultaneamente, fazendo com que não tenham o controle de seus pensamentos, e muitas das vezes acabam o impulsionando ao ato de fuga da situação.
Como por exemplo, ter medo de dizer que ama alguém. A pessoa prefere não dizer, mas o que será que faz o sujeito sustentar o desejo de fuga?
Também podemos pensar naqueles pensamentos que invadem a mente do sujeito a ponto de “quase o enlouquecer”.
Geralmente essa modalidade de pensamento se dirige ao pensamento obsessivo, ou seja, que não se cala, tirando a paz da pessoa!
Sabemos porém que seu pensamento está direcionado a algo que de fato existe em sua realidade, por exemplo, a pessoa tem uma viagem marcada para o dia seguinte, e não consegue dormir durante a noite, pois está ansioso(a) pelo horário marcado, e isso se repete em tudo aquilo que inclua a questão de horário ou compromisso marcado.
Pois bem, entendemos que se o pensamento está se dirigindo e permanecendo nesse sofrimento psíquico, podemos dizer que “alguma coisa” esse sujeito deseja com este incômodo.
Afinal, note que o que não se cala é a mente daquele que sofre; mas essa mente existe no corpo do sujeito, ou seja, alguma coisa faz com que o sujeito sustente em sua realidade aquele sofrimento.
A pessoa ansiosa gosta de sofrer?
Entenda que para nosso inconsciente não existe moralidade, não há distinção entre bem e mal.
O que na verdade permanece são vivências e sentimentos que de fato existiram ou foram criados pela fantasia do sujeito, e por algum motivo se fizeram satisfatório para o mesmo.
E isso retorna para a realidade da pessoa, o que sustenta é o desejo. Mas o que faz o sujeito permanecer nesse sofrimento? Somente em análise pode-se entender.
Outra questão na qual se entende na psicanálise, que culmina a ansiedade, seria a angústia.
Neste caso, se tratando deste elemento psíquico, não há de fato na realidade do sujeito algo que o impulsione ao sintoma de ansiedade, por exemplo, em nosso cotidiano nos deparamos com o discurso “nossa, estou tão ansioso(a), mas não sei por que, sabe? Sinto-me angustiado(a), mas não sei o motivo”…
O mais interessante é que realmente essa pessoa não sabe, em sua realidade não existe o objeto concretizado que o determine nesse sentido de ansiedade/angústia.
Portanto, a pessoa nessa posição “não utiliza muito do pensamento”, mas sim do ato, por exemplo, trabalha sem parar, come sem parar, ou seja, “vai fazendo e fazendo”, em uma sequência absurdamente exagerada.
Afinal, se essa pessoa não tem a que se apegar na realidade, ou seja, não existe um objeto concreto que a faça vivenciar a ansiedade e se direcionar a ele, o sujeito toma atitudes na tentativa de cessar esse sentimento que o impulsiona e o incomoda.
Existe cura?
Então, quando falamos de desejo, estamos nos referindo a algo que faz do sujeito um “escravo” de seu desejo inconsciente, e isso ultrapassa a questão conscientemente do “querer”, pois como citado acima, o inconsciente não se direciona na ideia do bem e mal, mas de questões que o impulsiona para ser quem é, e sofrer pelo o que sofre.
Logo, o que posso afirmar é que no processo de análise, ou psicoterapia, o sujeito através de suas queixas traduzidas em palavras, poderá sim entender o motivo de sentir o que se sente e o incomoda.
Mas insista-se: para que isso se dê é necessário desejo para sustentar uma análise, afinal, entendo que não é fácil para ninguém “mexer no esgoto” que sua mente guardou.
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