As emoções e o corpo: Qual a relação entre eles?

As emoções e o corpo: Qual a relação entre eles?

As emoções e o corpo

Para Perls (1977, p.95) não existe isso que chamam de integração total. A integração nunca se completa; a maturação nunca se completa. Ela é um processo sempre em andamento.

Ao se pensar em desenvolvimento humano não se pode olhar apenas o aspecto dos sentimentos e emoções, mas também das sensações corporais que estão implicadas neste processo de viver as experiências como um todo.

Experienciar e sentir envolve perceber meu organismo de uma forma geral, na medida em que sentindo tristeza, posso também sentir um forte aperto no peito, por exemplo, pois cada emoção vivida também vem acompanhada de sensações internas e sensações corporais na pessoa.

Para Bock, Furtado e Teixeira (2008), as emoções são expressões de afeto acompanhadas de reações intensas e breves do organismo em resposta a um acontecimento inesperado ou, às vezes, muito aguardado, fantasiado.

Quando vivemos emoções é possível observar qual a relação dos afetos com a expressão corporal, sendo que muitas vezes estas reações orgânicas fogem ao controle do sujeito. Então, conhecer a si é também conhecer além dos afetos, as expressões e sensações corporais que estão envolvidas em uma emoção. Na rotina do dia-dia o indivíduo por muitas vezes não se percebe em suas reações, sensações físicas que também são importantes, pois conhecer-se implica também saber como as emoções se expressam em nosso corpo.

Juntos (emoção e corpo), numa relação de interdependência, fazem parte do indivíduo, influenciando em suas experiências e maneiras de agir.

Emoções e vivências corporais no indivíduo

As emoções podem estar associadas a:

  • Doenças cardiovasculares;
  • Câncer;
  • Doenças infecciosas;
  • Tremores;
  • Sudorese;
  • Falta de ar;
  • Taquicardia;
  • Boca seca;
  • Dor de barriga;
  • Tensão muscular;
  • Liberação de endorfinas;
  • Aumento do Hormônio Cortisol;
  • Etc.

Sensações físicas, doenças crônicas e alterações hormonais são alguns exemplos que estão relacionados às emoções que o indivíduo vivencia. Assim como não se pode olhar para uma pessoa que está com câncer, por exemplo, sem olhar suas emoções e vivências psicológicas, também não se pode olhar para uma pessoa que está sentindo raiva, por exemplo, sem olhar para suas expressões corporais.

Para o Holismo o ser humano é formado por um conjunto complexo de estruturas (fisiológica, psicológica, social, espiritual e emocional), sendo elas inter-relacionadas, onde uma área influencia outra. Aqui cabe falar também no conceito de homeostase que consiste no equilíbrio natural do corpo, na capacidade dele de auto-regulação.

O organismo busca o equilíbrio, a homeostase, assim pode-se dizer que o sintoma que uma pessoa apresenta pode ser a melhor maneira que ela encontrou para viver em suas dificuldades. Ou seja, ao olhar a doença, as expressões corporais e as emoções vivenciadas, busca-se olhar o indivíduo como um todo e a sua forma de funcionar, para melhor compreensão de como ele percebe o mundo e vivencia suas problemáticas. 

Uma criança, por exemplo, pode desenvolver ansiedade em um ambiente onde os pais não respeitam o espaço dela e a punem com facilidade. Para essa criança “estar ansiosa” foi a única maneira que ela encontrou naquele momento e naquele ambiente de viver as suas dificuldades.

Claro que também por ser ainda uma criança ela não tem os recursos psicológicos totalmente desenvolvidos. A ansiedade vivenciada se expressa a nível emocional e também através de expressões corporais e sensações físicas, como roer as unhas, sentir as mãos geladas, por exemplo.

As emoções são vividas no corpo também e estas sensações corporais precisam ser conhecidas, bem como a energia que as envolve para que o organismo do sujeito passe pelo processo de auto regulação, que nada mais é do que seu equilíbrio como um todo.

 

Como a psicoterapia pode me ajudar a encontrar o equilíbrio?

A abordagem da Gestalt-terapia vê o indivíduo em sua totalidade, e na psicoterapia a pessoa passa pelo processo de awareness (tomada de consciência), aprofundando-se em suas vivências emocionais. Pode–se dizer que a energia sensorial adormecida pelos hábitos sociais é uma das características da neurose descrita pela Gestalt-terapia, onde passando pela ampliação da awareness o indivíduo pode ser liberado da anestesia de uma fixação neurótica.

Ou seja, a pessoa tem a oportunidade de “ultrapassar”, ir além daquele hábito ou regra social. Aqui poderia se falar em awareness sensorial, que significa possibilitar a fluidez do processo da consciência por meio da corporeidade, a fim também de retomar a sensação de ser um corpo, de transformação, de sensação de possibilidades.

Trabalhar o corpo na Gestalt-terapia implica trabalhar a totalidade da forma, que inclui a fala e o gesto do corpo que acompanha a fala (movimentos de braços, pernas, cabeça, tom de voz, olhar e movimentos). Neste sentido, trabalhar a ação que vem do campo do cliente é de suma importância no processo psicoterápico. Juntos, terapeuta e cliente percebem as situações, emoções e sentimentos através da ampliação da awareness (tomada de consciência). 

A Gestalt-terapia busca também a auto-regulação do organismo, onde a pessoa entra em contato com suas reais necessidades. A partir daí encontra em suas potencialidades e recursos novas maneiras ou um novo olhar sobre suas vivências que o ajudarão a viver de forma mais equilibrada.

Quando a pessoa está com uma doença como o câncer, por exemplo, há um comprometimento na sua capacidade de escolha e também uma cristalização de determinada resposta do organismo (defesas patológicas). Em um trabalho terapêutico, inclusive corporal, o indivíduo pode ressensibilizar o organismo para poder reestruturar novas maneiras de agir mais criativas, bem como adquirir um maior equilíbrio do organismo como um todo.

Estar awareness, consciente de si, é também perceber as sensações corporais que estão envolvidas em uma situação de medo ou raiva, por exemplo. Pois quando a pessoa está consciente de si, de suas reações pode buscar novas maneiras de agir, menos impulsivas, por exemplo. O corpo também pode guardar energia e levar o indivíduo a permanecer “fixado”, “bloqueado” em suas vivências.

Neste caso, há um impedimento para que o mesmo tenha ajustamentos criativos mais saudáveis, sendo que estes ajustamentos criativos são definidos como a capacidade dele interagir com o ambiente sempre que necessário, de acordo com suas necessidades e também de acordo com o que este ambiente permite no momento.

Ou seja, há ajustamentos criativos mais saudáveis que a pessoa pode utilizar em sua vida, e a partir de um trabalho terapêutico onde o indivíduo passe a expressar suas emoções, sentimentos e também trabalhar a corporeidade e as sensações corporais, ele pode adquirir um novo “sentir” e “agir” mais consciente e equilibrado com suas reais necessidades.

 

Referências Bibliográficas:

Perls, F. Hefferline, R. & Goodman, P. (1951/1997). Gestalt-Terapia. São Paulo: Summus.

Robine, J. M. (2006). O self desdobrado: perspectiva de campo em Gestalt-terapia. São Paulo: Summus.

Rayssa Mazza de Castro Alencar
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