A adolescência é um período difícil, turbulento, com variações de humor e crises emocionais. Os jovens passam por pressões sociais e por várias situações novas quando se aproximam da idade adulta, e para alguns esse período de transição é muito difícil.
A adolescência parece ser fácil pela pouca responsabilidade que o adolescente possui, para alguns pais, a rotina do adolescente é apenas ir à escola e pronto. Mas, na verdade o adolescente tem dentro de si muitas cobranças. Pré vestibular, dúvidas em relação ao futuro, dúvidas sobre o que vai cursar, pressão para passar na faculdade, amores correspondidos e não correspondidos, amizades reais e irreais, o descobrimento da sexualidade, provas, medo de não ser aceito na sociedade e de ser excluído de algum grupo de amigos, conflitos familiares e demandas dos pais, que o adolescente carrega em si.
Somando tudo isso, conseguimos perceber que a adolescência na verdade não é nada fácil.
A depressão na adolescência
A depressão é um conjunto de condições associadas à elevação ou o rebaixamento do humor, perda de interesse em atividades, prejudicando significativamente o dia a dia. Existem vários fatores de risco que podem contribuir para o desenvolvimento da depressão, como:
- Histórico familiar,
- Ansiedade,
- Traumas psicológicos,
- Conflitos com relacionamentos.
A depressão é uma doença crônica, recorrente, muitas vezes com alta concentração de casos na mesma família, que ocorre não só em adultos, mas também em crianças e adolescentes. O que caracteriza os quadros depressivos nessas faixas etárias é o estado de espírito persistentemente irritado, tristonho ou atormentado que compromete as relações familiares, as amizades e a performance escolar.
Sintomas de depressão na adolescência
- Falta de entusiasmo;
- Falta de energia/motivação;
- Afastamento/isolação em atividades sociais;
- Baixo rendimento escolar;
- Baixa autoestima;
- Ansiedade e medos;
- Insônia ou hipersônia;
- Diminuição do apetite, perda ou ganho significativo de peso na ausência de regime alimentar (geralmente, uma variação de pelo menos 5% do peso corpóreo);
- Sentimento exagerado de culpa ou inutilidade;
No geral, a depressão afeta o humor, o pensamento, a disposição e/ou o comportamento do adolescente. Na maioria das vezes, o adolescente não reconhece que está deprimido. Ele pode relutar em assumir sentimentos de tristeza e desesperança. Felizmente, a depressão em jovens responde bem a vários tipos de tratamentos, principalmente quando se tem apoio dos responsáveis, paciência, compreensão e acompanhamento de um psicólogo.
Na ausência de tratamento, os episódios de depressão duram em média oito meses. Durações mais longas, no entanto, podem ocorrer em casos associados a outras patologias psiquiátricas e em filhos de pais que também sofrem de depressão. É muito difícil tratar depressão em adolescentes sem os pais estarem esclarecidos sobre a natureza da enfermidade, seus sintomas, causas, provável evolução e as opções medicamentosas.
A terapia é muito eficaz no tratamento da depressão, nela, os pacientes aprendem a lidar com dificuldades pessoais como a perda de relacionamentos, decepções e frustrações da vida cotidiana. O tratamento psicoterápico deve ser mantido por seis meses, no mínimo.
A ansiedade na adolescências
A ansiedade na adolescência se manifesta de várias formas: dor no corpo quando vai fazer alguma prova, quando está perto de alguém que você gosta e as pernas tremem, o estômago dói sem motivos aparentes, medo de sofrer algum acidente, medo de perder os pais, nervosismo nos primeiros dias de aulas, irritabilidade com a família, coração acelerado quando sente medo.
E quando a ansiedade não é tratada, pode tornar um caso mais grave, como:
- Transtorno de ansiedade de separação: É caracterizado por ansiedade excessiva em relação ao afastamento dos responsáveis, não adequada ao nível de desenvolvimento, que persiste por no mínimo 4 semanas. Os sintomas causam sofrimentos intensos e prejuízos significativos em diferentes áreas da vida do adolescente. Os adolescentes, quando sozinhos, temem que algo possa acontecer a seus pais ou a si mesmo, tais como: doenças, acidentes, sequestros, assaltos, etc, algo que afaste definitivamente deles.
- Transtorno do pânico: É caracterizado pela presença de ataques de pânico (presença de medo intenso de morrer, associado a inúmeros sintomas autonômicos, como taquicardia, sudorese, tontura, falta de ar, dor no peito, dor abdominal, tremores), seguidos de preocupação persistente de vir a ter novos ataques.
- Transtorno de ansiedade generalizada: O transtorno da ansiedade generalizada (TAG) é comum entre os adolescentes, sendo caracterizado por sintomas de ansiedade incontroláveis e que fogem à realidade. Um jovem com TAG tende a se preocupar de forma exagerada com a impressão que as outras pessoas têm a seu respeito e costuma ser pessimista em relação ao futuro.
- Transtorno de ansiedade social: Esse tipo de transtorno pode causar medo e desconforto no jovem em situações sociais, fazendo com que ele apresente tremores, sudorese intensa, gagueira, dificuldade de comunicação e até mesmo náusea. O transtorno da ansiedade social pode levar o adolescente a consumir álcool ou outras drogas de forma exagerada para conseguir enfrentar esses momentos, além de ser um agravante para a depressão e pensamentos suicidas. Jovens com esse tipo de transtorno costumam passar a maior parte do tempo sozinhos ou em companhia de poucos amigos. Também evitam eventos sociais e costumam apresentar baixo desempenho na escola.
O adolescente vive em constantes desafios, com relação a problemas reais ou a situações imaginárias frente ao mundo, que espera dele respostas adequadas em várias situações. Conhecer os sintomas de ansiedade mais comuns nos adolescentes fomenta ou leva a reflexão por parte de pais, professores e psicólogos que podem intervir sistematicamente para prevenir ou minimizar o desenvolvimento da mesma.
Cuidando da ansiedade e da depressão
A abordagem psicoterápica é o tratamento inicial para transtornos de ansiedade em adolescentes e, sempre que possível, deve ser a primeira opção. Há diferentes modelos psicoterapêuticos, cada um com suas especificidades, propostas e tempo de ação, uma maneira sensata de escolher qual forma de psicoterapia deve ser utilizada, inicialmente.
O adolescente precisa aceitar que está passando por um momento delicado, é necessário que ele compartilhe com os responsáveis os seus sentimentos, além de pedir ajuda para buscar um profissional. No encontro com um psicólogo, o adolescente estará compartilhando suas angústias, medos ou experiências sem sofrer nenhum tipo de julgamento.
A abordagem que eu uso nos atendimentos é a Abordagem Centrada na Pessoa – ACP. Ela contribui para a prevenção e promoção da saúde, e para o desenvolvimento interpessoal em suas dinâmicas de comportamento. A compreensão necessária e suficiente para que ocorra a mudança da personalidade acontece sobre tais condições do funcionamento do self (eu) e a interação com o ambiente. Para Bacellar, Rocha e Flôr (2012), “A capacidade do indivíduo de superar as dificuldades advindas da interseção existente entre condições ambientais, aspectos físicos, psíquicos e sociais”. Assim, esta será uma das formas de ajudar na ansiedade e na depressão.
O psicólogo é o grande facilitador para se fazer ressoar o diálogo da prevenção da ansiedade e depressão. Compreender essa discussão nos mais diversos contextos das relações humanas, considerar os aspectos emocionais e sociais para o seu processo de saúde, a fim de promover a sua autonomia no cuidado individual, resgata a necessidade de relações interpessoais autênticas como veículo de prevenção e promoção a saúde.
Outras atividades que também ajudam a lidar com as emoções:
- Converse com algum amigo sobre o que está sentindo;
- Estabeleça uma rotina;
- Faça algo que você gosta;
- Tire um tempinho pra você;
- Tome sol (a luz do sol desencadeia uma série de reações químicas que nos deixam com mais disposição o que certamente será muito útil);
- Preste atenção na sua respiração;
Para a ansiedade e depressão, não existe uma receita pronta, é um processo lento, mas não é impossível superar essas dificuldades.
Referências Bibliográficas:
BATISTA, Marcos Antonio; OLIVEIRA, Sandra Maria da Silva Sales. Sintomas de ansiedade mais comuns em adolescentes. Psic, São Paulo , v. 6, n. 2, p. 43-50, dez. 2005 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1676-73142005000200006&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 15 jul. 2020.
Filho OCS, Silva MP. Transtornos de ansiedade em adolescentes: consideraçoes para a pediatria e hebiatria. Adolesc Saude. 2013;10(Supl. 3):31-41
BACELLAR, A; ROCHA, J. S. X; FLÔR, M. D. S. Abordagem centrada na pessoa e políticas públicas de saúde brasileiras do século XXI: uma aproximação possível. Rev. NUFEN [online]. v.4, n.1, janeiro-junho, 127-140, 2012. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rnufen/v4n1/a11.pdf Acesso em: 16 de julho de 2020.
- Ansiedade e depressão na adolescência: como lidar? - 4 de agosto de 2020