O sofrimento psicológico na pandemia

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O sofrimento psicológico na pandemia

A pandemia do novo coronavírus (Covid-19) é a maior emergência de saúde pública que enfrentamos. Além das preocupações quanto à saúde física, traz também preocupações quanto ao sofrimento psicológico que pode ser experienciado pela população geral e principalmente pelos profissionais da saúde envolvidos.

Estudos sobre implicações na saúde mental em decorrência da pandemia do novo coronavírus ainda são escassos, por se tratar de fenômeno recente, mas apontam para repercussões negativas importantes. Juntamente com a pandemia de Covid-19 surge um estado de pânico social em nível global, e a sensação do isolamento social desencadeia sentimentos como o medo, a insegurança e a angústia, podendo se estender até mesmo após o controle do vírus.

Apesar de o isolamento social ser uma medida empregada para a preservação da saúde física do indivíduo, é fundamental pensar na saúde mental e bem-estar das pessoas submetidas a esse período de isolamento. 

Diante deste cenário, estima-se que um terço ou metade da população mundial apresente algum tipo de transtorno mental, manifestando-se conforme a força do evento e o estado de vulnerabilidade social, o tempo e a efetividade das ações governamentais no contexto social ao longo da pandemia de Covid-19 (FIOCRUZ, 2020b). 

Luto 

Como todos sabem, o luto é um processo de elaboração de perdas significativas na vida, onde a principal perda vinculada ao luto é a morte de pessoas queridas com as quais se mantém um vínculo. Mas, ele também ocorre quando não há mortes, como por exemplo, em caso de separações, perda de alguma atividade relacionada ao trabalho, ou em qualquer outra situação que gere uma grande mudança na vida das pessoas. 

Diante disso, a pandemia de Covid-19 se inclui nesse contexto porque traz consigo alterações significativas na vida das pessoas, tanto das que não estão doentes, que não perderam nenhum ente querido, como na vida dos pacientes que estão infectados e internados, por conta dos graves sintomas. 

Apesar de o luto ser um processo natural do ser humano, ele ainda provoca um desequilíbrio na vida cotidiana. Ele desorganiza a vida. Não é uma doença, mas pode levar a sintomas físicos e psíquicos que precisam ser cuidados. Os rituais são ações que ajudam a organizar esse processo de desequilíbrio em situações de adoecimento, de morte e pós-morte. Eles são muito importantes porque permitem despedidas e formas de homenagear os entes queridos, além de oferecerem conforto aos enlutados. 

Diante desse quadro, o impacto de não poder despedir-se do corpo de um familiar está sendo muito forte, porque as despedidas são muito importantes quando se referem à perda de pessoas significativas e, por conta da pandemia, isso não está sendo possível de se fazer.

É importante ter seu luto validado, reconhecido, e que os sentimentos possam ser expressos e acolhidos sem julgamentos críticos. Todos esses pontos são importantes numa sociedade que ainda vê a morte como tabu, como um assunto que deve ser oculto.

Cuidados com a Saúde Mental 

É importante dizer que as sequelas de uma pandemia são maiores do que o número de mortes. Os sistemas de saúde dos países entram em colapso, os profissionais de saúde ficam exaustos com as longas horas de trabalho e, além disso, o método de controle mais efetivo da doença, que é o distanciamento social, tem impactado consideravelmente a saúde mental da população (Brooks et al., 2020). 

Diante do exposto, é possível criar algumas estratégias de enfrentamento durante a pandemia. Vejamos algumas delas: 

  • Evite hábitos prejudiciais – Cuidado com o uso abusivo de tabaco, bebidas alcoólicas e outras drogas como forma de fugir da angústia.
  • Converse com os colegas – É fortalecedor trocar experiências e compartilhar vivências com os outros profissionais que estão passando por situações semelhantes.
  • Autocuidado – Lembre-se de descansar entre os turnos e, caso necessário, faça pausas também durante o expediente. De preferência, em um local tranquilo. Além disso, é importante manter uma boa alimentação e hidratar-se.
  • Pratique a Resiliência – Reflita sobre as dificuldades enfrentadas e o que pode aprender com elas, ressignifique sua experiência!
  • Compartilhe o cuidado – Sempre que possível, estimule ações de cuidado compartilhadas, pois assim você evita se sobrecarregar e gera uma sensação de pertencimento social.
  • Não se isole – algumas pessoas podem se afastar de profissionais de saúde por medo de contaminação, compreenda que se trata de algo passageiro. Portanto, mantenha o contato, mesmo que à distância através de meios virtuais, com familiares e amigos.
  • Retome estratégias de enfrentamento já utilizadas em crises anteriores – recorra às habilidades que você usou no passado e que o ajudaram a gerenciar as adversidades da vida. Tente perceber o que pode aprender com tudo o que você está passando, descubra qual o seu melhor jeito de passar por tudo isso e lembre-se que isso não durará para sempre.
  • Cuide de seu corpo – atividades físicas e alongamentos são importantes para evitar estresse e diminuir a ansiedade. É possível realizar atividades antes praticadas, adaptando-as ao ambiente domiciliar. Incluir essas atividades na rotina diária fará diferença na saúde física e mental.
  • Realize atividades que produzam tranquilidade – o medo, pânico e estresse não ajudam individualmente nem coletivamente. Realize atividades que te tranquilize, escute uma boa música, faça um curso online, leia aquele livro esquecido ou assista aquela série que te recomendaram, faça coisas que gosta.
  • Evite excesso de informações – consumir muitas notícias de diferentes fontes o tempo todo pode disparar sua ansiedade e te levar a um estado mental de constante alerta. Tente se informar apenas de uma a duas vezes, de preferência, não faça isso após acordar ou antes de dormir. Filtre conteúdos e imponha limites quanto a sua exposição a informações que alterem seu estado de humor.
  • Estabeleça uma rotina – pessoas que podem fazer escolhas e decidir sobre sua rotina diária, que têm acesso a atividades estruturadas e uma rotina estão mais propensas a lidar melhor com diminuição de autonomia. Por isso, crie uma rotina de trabalho e autocuidado. Procure realizar atividades prazerosas e significativas, isso ajudará o dia a acontecer de um jeito mais organizado e tranquilo.

Um exercício para se praticar neste momento de pandemia

E para finalizar, um exercício de respiração e meditação que podem trazer bastante bem-estar em momentos de maior ansiedade ou estresse: 

  • Encontre um local tranquilo e confortável, sente-se com as mãos próximas ao umbigo;
  • Inspire pelas narinas enchendo os pulmões de ar e conte mentalmente até 4;
  • Segure o ar contando até 2;
  • Expire devagar pela boca, contando até 6, esvaziando totalmente os pulmões e a barriga.
  • Faça esse exercício durante 5 minutos.

Se você está com dificuldade de lidar sozinho com esta situação que estamos vivendo, ou conhece alguém nessa condição, procure uma ajuda profissional. 

A terapia é uma grande aliada em diferentes momentos de nossas vidas e agora não poderia ser diferente. Por isso, ao menor sinal de problemas, de sofrimentos psicológicos, não hesite em procurar um psicólogo. Afinal, só há um caminho para superarmos tudo o que está acontecendo: lutando juntos e tendo empatia, adquirindo a capacidade de pensar nos outros, e não só em nós mesmos. 

REFERÊNCIAS :

BROOKS, S. K., WEBSTER, R. K., SMITH, L. E., WOODLAND, L., WESSELY, S., GREENBERG, N., & RUBIN, G. J. O impacto psicológico da quarentena e como reduzi-la: revisão rápida das evidências. Vol. 395. Mar. 2020. Disponível em: <https://www.thelancet.com/action/showPdf?pii=S0140-6736%2820%2930460- 8>. Acesso em: 05 jun. 2020. 

CRUZ, FUNDAÇÃO OSWALDO. Saúde mental e atenção psicossocial na pandemia COVID-19: cuidados paliativos. Rio de Janeiro, 2020b. Disponível em: <https://www.fiocruzbrasilia.fiocruz.br/wpcontent/uploads/2020/04/Sa%C3%BAde -e-Mental-e-Aten%C3%A7%C3%A3o-Psicossocial-na-Pandemia-Covid-19-cuidados- paliativos-orienta%C3%A7%C3%B5es-aos-profissionais-de-sa%C3%BAde.pdf>. Acesso em: 07 jun. 2020. 

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